Entre o êxtase e a maldição

Entre o êxtase e a maldição

Trajetória do autor de As Flores do mal combina miséria, ópio e modernidade das ruas de Paris
Entre todos aqueles que compõem o que a cultura francesa define como República das Letras, o poeta Charles-Pierre Bau­delaire é o grande sonhador da moder­nidade, o maldito, o fantasma das ruas de Paris guiado por ópio e ha­xixe, o crítico de uma nova arte, o comentador da atmosfera urbana, a semente do surrea­lismo; “uma experiência singular”, como define o filósofo alemão Wal­ter Benjamin, que viu nele um instante definitivo da potência criativa européia.

Baudelaire nasceu em Paris em 9 de agosto de 1821, e, até o seu fim, em 31 de agosto de 1867, foram anos de embate contra uma variedade de adversários: de seu padrasto, coronel Aupick (seu pai, um pintor amador, morre em 1827), embaixador da França em Constantinopla, à moral de seu país durante o Segundo Império, de Napoleão III.

Aos 18 anos, após ser expulso do liceu Louis-le-Grand, encontra pela primeira vez Gérard de Nerval, o autor de Aurélia, e tem início o que sua família acreditou ser uma vida de devassidão. Algo que se ampliaria após sua maioridade, quando tem o direito de receber parte da herança e decide gastá-la com uma amante, Jeanne Duval, e em noites ao lado do poeta Théophile Gautier. Esse é seu período de pleno dandismo: “O dândi não tem outra ocupação que a elegância”, Baudelaire escreve em “O pintor da vida moderna”. No mesmo período, descobre a obra do norte-americano Edgar Allan Poe, de quem traduz os contos e o romance As aventuras de Arthur Gordon Pym.

Em 1857, publica As Flores do mal, e os poemas do livro rendem a ele e a seu editor um processo por atentado contra a moral pública. No julgamento, o procurador-geral, Pinard, afirma sobre a obra de Baudelaire: “O princípio, sua teoria, é a de tudo retratar, tudo colocar a nu; ele vasculhará a natureza humana e exaltará seu lado hediondo”.

Com os anos, sua situação econômica se torna desesperadora, e ele prossegue com seus escritos críticos (R.Wagner e Tan­nhaü­ser, 1861; Curiosidades estéticas, A essência do riso nas artes plásticas, Delacroix e A arte ro­mân­tica, todos de 1869) e poéticos (Os paraísos ar­tifi­ciais, 1860; Pequenos poe­mas em prosa, 1863; O Spleen de Paris, 1864), além de contos e afo­ris­mos. Charles Baudelaire morre aos 46 anos, possivelmente em conseqüência de uma sífilis contraída na juventude, e é enterrado no cemitério parisiense de Mont­par­nasse. Hoje, As Flores do mal é um dos maiores best-sellers franceses, com mais de 5 milhões de exemplares vendidos.

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