Donald Winnicott no Brasil em 2022
Donald Winnicott é o psicanalista da vida. Só quem conheceu como próprios os meandros produtivos da psicanálise, que ele chamava de fundamentalmente criativa, poderia dizer um dia que “a vida é mais importante que a análise”. Para ele, sem abrir mão da teoria do inconsciente que recebeu de sua tradição, a psicanálise sempre foi de fato vida. Tendo anos de análise pessoal com James Strachey, que se analisou com Freud em Viena, e de estudos com Melanie Klein, que se analisou por sua vez com Sándor Ferenczi e Karl Abraham, Winnicott soube fazer seu tudo aquilo que recebeu, bem como, em sonhos, Goethe propôs a Freud. Ao seu modo altamente idiomático, ele reinventou a psicanálise, o objeto cultural que tanto amava, no mesmo movimento em que a incorporou. E foi exatamente esta ética de civilização como criação que ele ofereceu aos milhares de crianças e bebês que teve no colo, durante cinquenta anos, em sua clínica psicanalítica pediátrica que acontecia no hospital público inglês. Talvez por isso elas transformassem de modo tão vivo suas dores e seus medos junto a ele, junto à sua zona de ilusão.
Passando por baixo e indo além de todo caráter contratual que estrutura grande parte da vida social da psicanálise no mundo, como Gilles Deleuze dizia sobre ele, sendo o primeiro a nos ensinar a “a ir até lá”, como o filósofo completava, observando, como também dizia Giorgio Agamben dele, o modo com que o objeto põe o humano para ser nele próprio, como os índios, as crianças e os artistas sabiam, Winnicott é, por estas e por
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