Derrida e Foucault: Éticas sem virada
É muito comum ouvirmos ou lermos indicações de que alguns autores da chamada pós-modernidade – incluindo sob esse rótulo as mais diversas vertentes do pensamento contemporâneo –, com o passar dos anos (sobretudo com o chegar da velhice), acabam por dirigir seus pensamentos a questões mais propriamente éticas. Assim, segundo esses argumentos, autores como Jacques Derrida (1930-2004), Michel Foucault (1926-1984) e Jean-François Lyotard (1924-1998), entre outros, apresentariam certa “virada ética” em suas filosofias. Isso pode parecer óbvio, ou mesmo comprovado empiricamente; bastaria comparar os títulos dos textos do início e do final da vida desses filósofos.
Mas o que vale aqui notar é quanto tais pensamentos foram desde o início de suas reflexões sempre marcados por uma postura voltada à alteridade. Para tanto, tomemos os casos de Foucault e Derrida, a fim de vermos em que medida a noção de “virada ética” parece-lhes estranha, pois desde sempre foram marcados por uma ética. Em vez da referida guinada, parecem muito mais apresentar desdobramentos específicos em temas pontualmente éticos.
O “caso” Foucault
Parece quase consensual dividir a obra de Michel Foucault em, pelo menos, duas fases: a chamada “arqueologia”, que reuniria os livros da década de 1960, e a “genealogia”, com os livros da década de 1970 em diante. Divisão praticamente unânime, sendo que, para alguns comentadores, a última fase poderia subdividir-se no que chamam de estética da existência ou ética de si. Quase consensual também é a rej
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