A democracia de Tancredi e a do doutor Pangloss

A democracia de Tancredi e a do doutor Pangloss
(Arte Andreia Freire)
  No começo do século 20 a crise da democracia era um diagnóstico bastante difundido na Itália. O longo processo de unificação nacional no século anterior havia consolidado uma ordem política baseada na subordinação do Sul ao Norte e em instituições políticas fortemente antidemocráticas, nas quais os prefeitos (prefetti) constituíram-se em órgãos monocráticos do Estado que representavam o governo central nas províncias, arbitrando a vida local, e a nova lei eleitoral reproduzia o caráter fortemente censitário do sistema político Piemontês. A ampliação do sufrágio eleitoral a todos os homens maiores de 30 anos, no ano de 1912, alterou profundamente essa ordem política. O Partito Socialista Italiano (PSI) pulou de 97 mil votos em 1900 para 170 mil votos em 1909, e 903 mil votos, em 1912. Mas a lei eleitoral baseada na votação distrital uninominal impedia a bancada parlamentar do PSI de crescer proporcionalmente. Embora seu número de votos tivesse crescido quase dez vezes entre 1900 e 1913, a bancada do partido passou de 33 para 52 deputados apenas. Os 17,7% dos votos dessa última eleição garantiram ao PSI menos de 10% dos deputados do país. Eram, entretanto, o bastante para perturbar o jogo político tradicional. As elites políticas italianas reagiram a essa extensão da representação política das classes subalternas por meio do transformismo, pela absorção, cooptação e moderação dos representantes dessas classes. Esse procedimento era parte da história política italiana desde que a Sinistra storica, liderada por Ag

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