Decolonizando o olhar
(Colagem: Claudia Roquette-Pinto)
Para construir um olhar decolonial, torna-se imprescindível rever as raízes do pensamento ocidental, fundadas no privilégio dado ao sentido visual em detrimento dos outros, como o tato, o olfato e a audição. O ponto questionável é a centralidade e a persistência da visão para construir as categorias estéticas ocidentais que são limitantes, ao serem exportadas ou transferidas a culturas que valorizam outros sentidos na apreensão da realidade. Em algumas culturas – como a africana, a ameríndia e a andina, entre outras –, não se privilegia o sentido visual; a oralidade, o toque, a convivência relacional e a valorização das trocas harmoniosas com a natureza são os pontos geradores e produtores de todo o conhecimento.
A socióloga nigeriana Oyèrónké Oyěwùmí aponta em seu artigo “Visualizando o corpo: teorias ocidentais e sujeitos africanos” (1997) que encontramos uma influência teórica fortemente ocidentocêntrica (Europa e Estados Unidos) nos estudos africanos. A propagação da ideia de conhecimento como iluminação, do conhecer como ver e da verdade como luz pode ser notada na frequente associação de uma visão imparcial diretamente relacionada à objetividade. Esse regime de visualidade hegemônico e suas vãs promessas de objetividade acadêmica, científica e estética têm sido refutados por inúmeras teóricas feministas. No artigo “The Mind’s Eye” (1983), Evelyn Fox Keller e Christine Grontkowski examinam as ligações entre o privilégio da visão e o patriarcado, afirmando que as raízes do pensamento ocidental
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