Da família ao parentesco

Da família ao parentesco
Judith Butler em coletiva durante o I Seminário Queer no Sesc Vila Mariana, em 2015 (Foto Fanca Cortez)
  Tramita no Congresso Nacional um projeto de lei – PL 6583/13 – que trata do Estatuto da Família, instrumento conservador cujo objetivo é definir que tipo de agrupamento de pessoas pode ser denominado como família. Na contramão da vida real – em que famílias se organizam para além dos laços sanguíneos, se vinculam em redes extensas, se reconfiguram a partir de novas uniões –, o projeto pretende limitar a família ao modelo heterossexual e proibir a adoção de crianças por casas homoafetivos. É contra esse tipo de discurso conservador que O clamor de Antígona: parentesco entre a vida e a morte (Editora UFSC, 2014), da filósofa Judith Butler, se insurge. A partir de uma interpretação original da peça de Sófocles, Butler revisita as leituras de Hegel e Lacan para localizar na personagem trágica de Antígona a possibilidade de dissociar família e parentesco. O argumento para essa separação vem da percepção de que a narrativa da luta de Antígona para enterrar Polinices foi inúmeras vezes lida sem que se tenha observado o amor dela por seu irmão. A Butler vai interessar o que ela chama de “caráter contingente do parentesco”, insistindo que todas as interpretações da peça contornam o fato de que Antígona é filha de uma relação incestuosa: Édipo é, ao mesmo tempo, pai e irmão de Antígona, e ambos são filhos de Jocasta. Só isso, argumenta Butler, já a impediria de ocupar o lugar de representante de leis de parentesco ordenadas pelo tabu do incesto. No entanto, na leitura de Hegel, Antígona encarna a passagem da lei s

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