Complexo de Iago
“Iago e Otelo”, (século 19, autoria desconhecida)
Espada de São Jorge, mão de Fátima, olho de Hórus, estrela de cinco pontas, cruz de Caravaca, arruda, olho grego, pimenteira ou mano fico, diversos são os recursos, plantas e amuletos usados para afastar o mau-olhado ou o olho gordo, nome popular da inveja. Tais objetos são significantes apotropaicos usados ainda hoje como um dia foi o “fascinus”, pequeno pênis em forma de pingente, “Medicus invidiae”, que ajudava a afastar o mal como se vê na História natural, de Plínio. Os talismãs, para afastarem o olho grande, partem do princípio de que é preciso cativar o olhar, desviar do seu ímpeto à devoração.
Helena Blavatsky, famosa mística fundadora da teosofia, afirmava que a verdadeira magia maligna era a inveja enquanto capacidade interna para o mau-olhado. Segundo seu ponto de vista, o poder do mal não viria da invocação de deuses ou demônios, nem da manipulação de forças da natureza, de rituais ou práticas de magia, mas, sim, da subjetividade de alguém. Mais do que da capacidade de desejar o mal conscientemente, seria da força interna, de um lugar que antecede a vontade, que viria a inveja, remetendo, portanto, à força do inconsciente e sendo incontrolável pelo agente da inveja, ele mesmo agenciado por algo que está além dele.
Nessa linha, percebe-se que a inveja, cuja origem é a palavra latina invidia, implica a não liberdade, ou seja, a impossibilidade de escolher entre o bem e o mal que acaba na produção do mal como se fosse um bem. Nem o invejoso nem o invejado têm poder sobre ela. A inveja implica o paradoxo
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »