Como Adorno encarou o cinema
Theodor W. Adorno: em alguns escritos, filósofo lançou as bases de uma poética original do cinema (Foto: Stefan Moses)
Embora tenha lhe consagrado menos tempo, energia e trabalhos do que à música ou à literatura (suas artes de eleição), Adorno nos legou sobre o cinema dois textos importantes e uma série de observações agudas, espalhadas em outros escritos voltados para assuntos diversos. Sem constituir uma teoria acabada, suas considerações sobre o cinema trazem contribuição vigorosa ao debate. Podemos dividi-las em duas dimensões, que coexistem em certos textos, mas possuem traços e cronologias distintos.
A primeira, que chamarei de “destrutiva”, corresponde a uma crítica veemente do cinema industrial hegemônico, sobretudo o hollywoodiano, abordado de modo frequentemente peremptório, sem um exame estético mais desenvolvido. Adorno o invoca a título de exemplo, a partir de discussões sociológicas ou filosóficas sobre o universo mais amplo da cultura de massa (que ele prefere chamar de “indústria cultural”), ou ainda sobre a literatura e a música. Essa abordagem predomina em suas considerações dos anos 1930-50 sobre o cinema, suscitadas por discussões com Walter Benjamin em torno do ensaio deste último, A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (1935-36), e depois por suas pesquisas empíricas sobre a indústria cultural empreendidas no exílio, de 1938 a 1949, nos Estados Unidos. Essa primeira dimensão surge em uma carta a Benjamin de 18 de março de 1936, ganha formulações mais claras e programáticas em textos dos anos 1940 (sobretudo no capítulo sobre a indústria cultural, em Dialética do esclarecimento, escrito com Hor
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