Chácaras
Cidade de São Paulo Vista do Paredão do Piques, atual largo da memória (1862), De Militão A. de Azevedo
i
Eles abriram
passagem com picaretas
para depois chegarem os arados
que descansam soterrados
no solo dos terreiros
ii
Corte seco
na neblina da Mata Atlântica
tragos do chá preto das Índias
cuidadosamente colhido
antes fora roubado
do Jardim Botânico
Tomo um café
que é para pensar na vida
iii
Em seus ensaios
Montaigne dizia
não pinto o ser
pinto a passagem
iv
A escrita e o lugar
é um tipo de pentimento
É preciso notar a presença
de traços anteriores
Um acúmulo de tentativas:
assim enxergo a cena
Minha vida
em sua completude exaustiva
v
Brisa fria
– disso não entendo
no Largo da Memória
vai passando o coletivo:
ora et labora
et legere
Não a catedral
uma capelinha
Rezava um terço
muito antigo minha avó
e até tarde trabalhava
– Assim vou lendo
olhos na cúpula
o mundo ao meu redor
vi
Quando os próximos chegarem
por onde irão abrir passagem?
André Santa Rosa, 26 anos, é poeta, jornalista e trabalha na comunicação do Theatro Municipal de São Paulo
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