Casa aberta

Casa aberta
Roberto Machado, década de 1960 (Cortesia Roberto Machado)
  Impressões de Foucault é um livro inclassificável, no melhor dos sentidos. Passeio livre pela memória, exercício de saudade, conta das idas e vindas de uma amizade pautada pela admiração intelectual. Não se trata, portanto, de um estudo, ainda que o autor seja profundo conhecedor da obra do filósofo francês, tendo sido um dos maiores difusores de seu pensamento no país. Numa escrita solta, que de certa forma se assemelha a seu retratado, Machado mescla reminiscências pessoais, histórias de militância contra a ditadura, indagações filosóficas, análise de seu próprio percurso acadêmico à luz das aulas e conversas que teve com Foucault, Deleuze e outros, e lembranças dos momentos de convivência íntima com o amigo, tanto em Paris quanto nas várias passagens pelo Brasil do autor de História da loucura e Vigiar e punir. São essas viagens que proporcionam alguns dos momentos mais saborosos do livro, em que o leitor mais afeito à obra de Foucault pode vislumbrar o homem por trás dos óculos de aro grosso e da indefectível gola rolê. O curioso é que o retrato surge meio borrado, talvez por conta do jeito imprevisível com que Foucault se colocava no mundo. Ora ele é gentil e generoso, como com as crianças pobres em Salvador ou Recife, que o cercavam curiosas com sua brancura alienígena, ora ele é cruel e sarcástico com alunos e mesmo amigos, capaz de ressentimentos eternos. “Metia medo. Sentia-se que era perigoso”. Suas brigas com Sartre, Althusser, Baudrillard, Derrida, Hélio Pellegrino e Deleuze, para citar apenas alguns,

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