Carolina Maria de Jesus tem obra e legado discutidos em ciclo de palestras
Carolina Maria de Jesus, em São Paulo, 1960 (Reprodução)
A partir do dia 10 de julho, em São Paulo, jornalistas e escritores debatem a importância histórica e literária de Carolina Maria de Jesus, considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras. Nascida na cidade mineira de Sacramento, Carolina passou a vida na favela do Canindé, em São Paulo, e registrava seu cotidiano duro em cadernos que encontrava no lixo.
As anotações se transformaram no livro Quarto de despejo, publicado em 1960 e já traduzido para 42 países. O “fenômeno” da publicação – em poucos meses foram vendidas 100 mil cópias – será discutido na abertura do evento pelo jornalista Audálio Dantas, que descobriu os cadernos de Carolina do fim da década de 1950, e pela filha da escritora, Vera Eunice de Jesus.
“Ela dizia que a favela era o quarto de despejo das zonas ricas da cidade, o lugar onde se joga os trastes que não se quer ver. E isso, para mim, é o que até hoje nossa literatura faz com Carolina Maria de Jesus, que é colocá-la no quarto de despejo. Não querem que ela saia de lá, querem que ela fique na senzala”, afirma a escritora e atriz Elisa Lucinda, que participa de uma mesa junto de Conceição Evaristo, no dia 13, sobre a escrita da mulher negra.
O evento acontece em meio a outras iniciativas que marcam os quarenta anos da morte de Carolina Maria de Jesus, como a publicação de uma biografia de autoria do pesquisador Tom Farias pela editora Malê. Recentemente, a Unicamp e a UFRGS anunciaram ainda que Quarto de despejo se tornará obra obrigatória do vestibular a partir de 2019.
Para Lucinda, é preciso que os espaços acadêmicos se relacionem de maneira mais ampla com as pessoas para que a literatura possa fazer o seu papel, o de “trazer luzes ao nosso tempo”.
“A gente trata mal nossos transgressores, as pessoas mais ousadas, as que não cabem em um quadrado. Além disso Carolina é negra, ex-catadora de papel, e não há uma reportagem que não a chame de catadora de papel, mesmo ela sendo escritora e tendo publicado. Isso me parece um academicismo recheado, coberto de racismo”, critica.
No Ciclo Carolina Maria de Jesus, o escritor e doutorando em Letras Ricardo Ramos Filho discute justamente o valor literário da autora e sua falta de reconhecimento entre o cânone da literatura brasileira. O escritor Ferréz fala, ainda, sobre as relações entre periferia e literatura marginal e a jornalista e escritora Adriana Carranca reflete a respeito das ligações entre Carolina e o movimento feminista.
“Carolina quase cria um condado de Macondo, do Gabo, com a favela de Canindé”, afirma Tom Farias, seu biógrafo. “Transformou a favela em algo tão real e tão imaginária, tocando e despertando todos os leitores para sentimentos de revolta e até alívio pela voz de Carolina, pelo que ela representou ali.”
Ciclo Carolina Maria de Jesus
Quando: entre 10 e 14 de julho, das 19h às 21h
Onde: Centro de Pesquisa e Formação do Sesc
Quanto: R$ 60 (inteira), R$ 30 (meia) e R$ 18 (credenciado do Sesc)