Beauvoir e os paradoxos do feminino
Simone De Beauvoir em 1947, ano em que passa 116 dias nos Estados Unidos, viajando por 19 estados e 56 cidades (Foto: Divulgação)
Reler Simone de Beauvoir hoje pressupõe compreender que a singularidade de seu pensamento não foi exaurida de sua amplitude interpretativa. Os temas presentes em seus escritos, como a ambivalência da liberdade e a ambiguidade da subjetividade, demonstram a pertinência de um contínuo envolvimento do século 21 na reinvenção da aventura humana. O que ainda nos surpreende na leitura de Beauvoir é que seus textos apontam para a descoberta da existência como metapergunta, como uma indagação acerca da condição humana que problematiza a própria consciência e a possibilidade de seu perguntar.
É no intento de vasculhar arquétipos e estigmas da mesmidade em que se assenta a nossa cultura que seu pensamento merece ser ressaltado, sobretudo no que concerne às análises sobre o ser-mulher em sua dimensão de alteridade absoluta no contexto cultural do Ocidente. Ao trazer para o horizonte da filosofia a figura do feminino, Beauvoir rompe com a presumida neutralidade e universalidade dos cânones da tradição metafísica.
Como ressalta Françoise Rétif, Beauvoir ocupa um lugar difícil e mesmo ambíguo na linhagem dos filósofos, na medida em que tenta a “articulação da tradição e do futuro”. Isso é válido para O segundo sexo (1949), mas também para o conjunto da sua obra, em que, dialeticamente, os ensaios conceituais se somam às práticas de uma intelectual engajada. Pensar o idêntico e o contraditório, o igual e o diferente, num mesmo plano valorativo, é o seu grande desafio teórico-político.
Estampas simbólicas do tempo
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