Ave, crítica
Guimarães Rosa: ensaios de Benedito Nunes interpretam a essência poética de sua linguagem
Toda grande obra literária precisa ser validada simultaneamente junto a dois tipos de destinatário com os quais ela normalmente estabelece uma relação complexa, imprevista e de equilíbrio delicado: a crítica e o leitor. Ou, mais especificamente, a crítica especializada e o leitor comum. A tarefa primeira do crítico parece ser a de conduzir o leitor à melhor compreensão e avaliação do texto literário, que se transforma, deste modo, em um grande pretexto para o diálogo entre o especialista e o amador (na acepção genuína de “aquele que ama”). Já ao leitor comum cabe a missão menos palpável – e, por isso mesmo, muito mais heroica – de manter a obra perene e viva em sua memória, de onde ela se precipita e se transforma em experiência pessoal cambiável com outros leitores e com a vida social, isto é, com o mundo, enfim. Críticos e leitores, então, são os elementos opostos, mas complementares, de uma mesma dinâmica de recepção da obra, cujo grande objetivo reside na associação do prazer ao conhecimento.
Em um país pouquíssimo afeito à tradição literária como o Brasil, a crítica e o leitor costumam assumir posições opostas, sim, mas de mútua incompreensão, quando não de ostensiva hostilidade. (No âmbito da cobertura que a grande imprensa faz da cultura de massa, esse curto circuito soa mais claro. Leitores costumam mandar cartas às redações de jornais e revistas, espinafrando os críticos de cinema, por exemplo, pelo fato de eles atribuírem cotação máxima a filmes de arte “incompreensíveis”. Esses mesmo
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