Atravessar a modernidade dobrando os joelhos

Atravessar a modernidade dobrando os joelhos
Entrée de la cour, 1905 (Eugéne Atget/ Divulgação Ed. Loyola)
  Todo leitor atento de Freud já se perguntou sobre a razão da presença constante  da crítica da religião em seus escritos “sociológicos”. Freud estaria tentando retomar, de maneira anacrônica, a velha temática do combate entre as luzes e as superstições? De fato, esta foi uma leitura corrente durante certo tempo. Para alguns, tudo se passa como se Freud ainda compreendesse o trabalho do esclarecimento a partir de moldes positivistas. Sua maneira meio comteana de afirmar que a humanidade conheceria três grandes Weltanschauung (visões de mundo), a animista, a religiosa e a científica, parecia o sintoma mais evidente de uma certa teoria do progresso e de modernidade que só poderia afirmar-se marcando as construções ético-religiosas de mundo com o selo da obsolescência. Uma teoria do progresso que não temeria desdobrar-se em teoria da maturação subjetiva, isto através de um paralelismo entre filogênese e ontogênese que serviria, inclusive, para explicar a doença através dos mecanismos da regressão e do bloqueio de desenvolvimento. Esta é, por exemplo, uma leitura colocada em circulação pelo jovem Foucault, em Doença mental e psicologia. Foucault pensa principalmente em uma certa perspectiva freudiana que vê a neurose como uma regressão a estágios anteriores do desenvolvimento libidinal e que permitiria a Freud comparar rituais compulsivos e rituais religiosos. De qualquer forma, não seria por outra razão, ao menos segundo o jovem Foucault, que Freud insiste em vários momentos de sua obra, principalmente a partir de Totem

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