Poética das Américas
Numa palestra em Buffalo, em 1994, o poeta argentino Jorge Santiago Perednik terminou sua apresentação enfatizando a resistência cultural ao recente reino do terror em seu país: “A luta era impossível e, por essa razão, ela se deu.” Sem intenção de violar a especificidade cultural do comentário de Perednik, eu entendo que isso pode ser transladado para o campo da poesia, na medida em que a poesia, resistindo à reificação culturalmente sancionada, também é impossível e só por isso se faz. Nesta conferência para a Abralic, eu gostaria de acrescentar as Américas a esta lista, pois as Américas são impossíveis e por isso também existem.
Américas, e não América, pois é na resistência a qualquer unidade singular de identidade das Américas que a impossibilidade delas abriga uma Poética das Américas. O espaço cultural dessa Américas impossíveis não é esculpido pelas fronteiras nacionais ou de idiomas, mas atravessado por várias tradições e propensões e histórias e regiões e povos e circunstâncias e identidades e famílias e coletividades e dissoluções sobrepostas, contraditórias – por dialetos e idioletos, não Línguas Nacionais; lugares e habitações, não Estados. Mas tais Américas são imaginárias, pois, em toda a parte, aquilo que é local está sob o fogo do padrão imposto de uma cultura transnacional de consumo e enfraquecida pelo imperativo de extraí-la e vendê-la como produto.
Nos EUA, estamos confusos com nossa própria história de resistência cultural, freqüentemente confundindo as lutas pela le
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