Aforismos rortyanos II

Aforismos rortyanos II
O crítico literário e professor Alcir Pécora (Reprodução)
  Continuo e encerro nesta edição da CULT o que pensei originariamente como um fichamento pouco ortodoxo, mas não impróprio, de Contingency, Irony, and Solidarity (Cambridge University Press, 1989), do filósofo norte-americano Richard Rorty (1931-2007), livro (a meu ver) incontornável para se pensar crítica literária no contemporâneo. Apresento, portanto, um resumo do Contingency..., dispondo-o praticamente nas próprias palavras do filósofo, como é costume fazer em exercícios escolares. Alerto, entretanto, para o termo “praticamente”, pois ele encerra uma pequena armadilha. Empreguei-o para acentuar o meu desejo de dar a cada frase de Rorty em português a forma de um aforismo que não me parece descabido existir nela. Usei como base dessa tentativa a tradução portuguesa de Nuno Ferreira da Fonseca (Editorial Presença, 1992), que tampouco segui ao pé da letra. 1. Numa perspectiva filosófica tradicional, existe um “eu” que tem “desejos e crenças” e pode decidir entre eles, ou exprimir-se por meio deles, de acordo com a sua coerência interna ou com a sua referência a algo exterior a eles. O pressuposto é que os desejos são melhores quanto mais correspondem à natureza do “eu”, e que as crenças são tanto melhores quanto mais correspondem à realidade. 2. Um filósofo tradicional pressupõe que existem relações nas quais o que é linguagem é uma unidade que se pode opor ao que é não-linguagem. 3. Da dupla pressuposição (oposição linguagem/não-linguagem, e unidade da linguagem) se segue uma dupla decorrência: supor

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