A pandemia e suas implicações éticas
A pandemia causada pelo novo coronavírus veio nivelar a humanidade. E suscitar sérias questões éticas. Não faz distinção de classe, como a anemia e o raquitismo, que resultam da fome; de gênero, como as doenças da próstata; nem de orientação sexual, como a aids, que no início afetava predominantemente homossexuais.
Trata-se, agora, de enfrentar um inimigo invisível que exige urgente mobilização global para deter seu avanço. E é em momentos de crise como este que as pessoas se revelam.
A questão ética fundamental que a pandemia levanta refere-se ao valor da vida humana. Para o capitalismo, a vida em si tem valor zero, a menos que revestida de adereços com valor de mercado e robustecida por bens patrimoniais e financeiros. Prova disso é o descaso humano em nossas cidades, cujas calçadas se enchem de pessoas maltrapilhas que sobrevivem da caridade alheia. Não teriam valor nenhum e, ao cruzar com elas, muitos evitam se aproximar, receiam o mau cheiro e o assédio.
Suponhamos que uma dessas pessoas ganhe uma fortuna na loteria e, pouco depois, apareça a bordo de um reluzente Mercedes Benz. Imediatamente passará a ter valor social e ser reverenciada – com o respeito e a inveja de quem o observa. Portanto, eis o patamar antiético ao qual o sistema capitalista nos conduz: valemos pelo que portamos, e não pelo simples fato de sermos humanos.
Agora, o espectro da morte nos nivela. A devastação letal ocupa praticamente todo o noticiário. Somos obrigados a redimensionar nossos critérios, valores e hábitos. Até as nações mais r
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