A Jurema e a filosofia do aprender sem se ensinar

A Jurema e a filosofia do aprender sem se ensinar
Praticantes da Jurema em cerimônia nas Matas do Engenho Pitanga II, em Abreu e Lima (PE) (Foto: Laila Santana)
  No nosso mafumbauê o cruzambê é bocunã, a saramunanga é cipopá, o pau é onirê mandá, o catimbó gira no balançar da gira cauã, o dendê é Cidade, e pro Reis se grita Sobô Nirê Mafá. A pisada é essa seu Zé, a pisada é essa... É massapê, é barro molhado, quem não sabe andar leva queda, porque nessa água tem veneno morena, quem bebeu morreu. Na nossa mundrungagem quem triunfa é ganga sobominirê que trunfando mazurca Reis riá. Quem lhe iniciou? Se três dias passou caído no tronco do Juremá? Teria sido a própria Jurema e as entidades e divindades que o iniciaram, dando a Mestre Carlos o poder de curar, de “trabalhar”? O interessante é que, à diferença das tradições “nagôs”, a Jurema não é só iniciática, ela é vigorosamente viva, única dentro de cada discípulo e discípula, afinal “a Jurema quando nasce, a ciência ela já traz”. A Jurema é uma tradição de matriz indígena do Nordeste do Brasil, com grande impacto na forma de ser e estar da vida cotidiana de todas as pessoas que compõem o universo nordestino em geral. Do lambedor de sete ervas às/aos rezadeiras e rezadores, do “fulano é o cão” ao “passou no vestibular em primeiro lugar, ele é o satanás”, do rezar às seis da noite ou ao pedir licença à liambeira, essa cultura amplamente viva é uma forma filosófica da vida cotidiana de nosso povo.   Essa tradição também é um contradiscurso hegemônico forte, que – diferentemente das grandes religiões que tentam separar as pessoas com seus dogmas e princípios teológicos – ass

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