A arte que nos habita e transmuta

A arte que nos habita e transmuta
“Sem título” (1987), de Francisca Baron Ribeiro. Óleo sobre papel. Coleção Museu de Arte Osório Cesar (Crédito: Gisele Ottoboni/MAOC)
  Serão as fissuras brechas de luz que entoam sonoridades e pausas? Interlúdios na pele do vento que suplica planícies e dunas? A arte faz fissuras e interroga a pertinência de suturas tantas que insistimos em realizar. Toda forma artística, como nos diz Adorno, é um conteúdo social histórico que decanta. São essas densidades tão heterogêneas que a arte mistura, fazendo flutuar e repousar simultaneamente o tempo, os sentidos, parindo o ato criador, tornando assim possível a experiência do visível e do invisível da criação. Esse movimento contínuo expressa a obra de arte que nunca se fecha, será sempre aberta, como nos aponta Merleau-Ponty. A intenção e o desejo são requisitos que tornam a obra carregada de sentido, de poder, que se abre para o mundo para memoriar recomeços, inacabamentos, ampla autoria, expressa na entrega entre autor e espectador, parideiros da obra que profetiza continuidades. A inquietação que a arte possibilita a coloca num lugar precioso de corporeidade encarnada, inventada, que potencializa um estar e ser no mundo enquanto experiência. Experiência que deixa rastros a serem observados e continuados, rastros como sinais de experiência comunicável no sentido benjaminiano, que valoriza o simbólico e ritualístico da arte, sendo que a implosão da aura mágica da obra artística sinaliza a erosão do espaço tempo na obra, em escalas enormes de exposição de massas, alterando valores, funções e mercantilizando o papel da arte na sociedade. Para Merleau-Ponty, a liberdade e as ambiguidades abrem a arte pa

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