Dossiê | Cultura do cancelamento, cancelamento da cultura
(Ilustração: Daniel Trench)
Presidente de uma organização dedicada à defesa da liberdade de expressão nas universidades estadunidenses – a Fundação em prol dos Direitos Individuais na Educação, ou FIRE, na sigla em inglês –, o advogado Greg Lukianoff começou a notar, em torno de 2013, uma mudança inquietante nas queixas que chegavam à sua mesa. Se antes ele lidava sobretudo com casos em que alunos eram censurados pela administração da universidade, a partir daquele ano tornaram-se mais numerosos os episódios em que os próprios estudantes exigiam que fossem removidos da sala de aula livros e textos considerados “ofensivos”. Consagrava-se a noção – muitas vezes encampada pelas próprias instituições de ensino – de que elas deveriam representar um “espaço seguro” (safe space), no qual os alunos não deveriam ser confrontados com ideias que contrariassem certas crenças e opiniões.
Com o intuito declarado de proteger minorias, a geração superprotegida e superpolitizada que chegou às universidades na segunda década do século 21 implementou interdições e proibições paranoides. Consagrou-se entre eles, por exemplo, o conceito de “microagressão”, segundo o qual a palavra ou atitude mais comezinha poderia expressar preconceitos odiosos. A simples pergunta “de onde você é?” seria ofensiva se feita a um aluno de minoria étnica, pois implicaria a ideia de que ele não é estadunidense. Os transgressores desses códigos de conduta draconianos com frequência eram chamados a explicar suas razões – ou a pedir desculpas. E membros da comunid
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