O ground zero do cancelamento

O ground zero do cancelamento
(Ilustração: Daniel Trench)
  Em 15 de janeiro de 1987, uma manifestação política singular ocorreu no campus da Universidade Stanford. Um grupo de aproximadamente 500 pessoas, liderado pelo reverendo Jesse Jackson, marchava contra uma das disciplinas centrais do currículo comum a todos os estudantes da prestigiosa instituição estadunidense: o curso de Western Culture, que trazia uma lista de leituras obrigatórias na qual figuravam os clássicos da Literatura, da Filosofia, da Religião e da História do Ocidente. De Platão a Maquiavel; da Bíblia a Freud; de Homero a Shakespeare, passando por Dante, a disciplina tinha o evidente e conhecido propósito de franquear aos estudantes uma participação na “grande conversação” dos clássicos formadores da civilização ocidental em todas as suas dimensões, consolidando e alargando as bases de um pertencimento cultural e social comum a uma história de quase três milênios de sucessivas e conflituosas – porém complementares – linhas de força civilizacionais.  A marcha era acompanhada por um slogan tão expressivo quanto direto: “Hey hey, ho ho, West Civ has got to go”, exigindo o fim da disciplina que, aos olhos dos alunos, professores e manifestantes envolvidos com a causa, representava uma visão eurocêntrica, dominantemente branca e masculina, associada não apenas à falta de diversidade, mas também aos horrores das práticas colonialistas, escravistas e imperialistas do passado ocidental. Ao leitor pouco habituado ao tipo de conflito político-cultural que vai aqui descrito, a associação do estudo de um Platão

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