A poesia insubmissa de Frederico Barbosa
O poeta Waltemir Dantas Frederico Barbosa (Foto: Divulgação)
A poesia de Frederico Barbosa é um antídoto à docilidade, à ficção ingênua do lirismo, tão fora de foco em meio às ruínas de qualquer certeza estável. Nascida em meio à perplexidade e à dúvida, é regida por uma dupla estratégia, uma no campo do engenho léxico e sintático, e outra na seara do pensamento: busca o impacto da forma inusual, imprevista, jogando com todos os recursos da função poética, mas sempre com uma visada crítica, não raro sarcástica e corrosiva. Seu anjo tutelar é menos um serafim da pureza vocabular que um daimon apaixonado pela impureza, pela mescla do erudito com o coloquial, vivificando o idioma, em vez de petrificá-lo. Sua escrita é o registro de uma paisagem de confusão e tumulto, e a violência verbal iconiza com voz enfática o presente barroco, fraturado, em que vivemos. Na lata – Poesia reunida (1978-2013), publicado pela editora Iluminuras, reúne poemas escritos ao longo de 35 anos de trabalho criativo e publicados em seis livros: Rarefato (1990), Nada feito nada (1993), Contracorrente (2000), Louco no oco sem beiras (2001), Cantar de amor entre os escombros (2002) e Brasibraseiro (2004), este último escrito em parceria com Antonio Risério.
Pátria insólita
Não é tarefa fácil resumir, em poucas linhas, todos os acidentes geográficos dessa pátria insólita. Conforme escreveu Sebastião Uchoa Leite, o poeta mistura “Camus e o jazz, Beckett e filmes noir, João Cabral e os faróis de automóveis”. Longe de ficar estanque no âmbito verbal, Barbosa incorporou procedimentos de montagem
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