Ausência e presença de um filósofo
Benedito Nunes no Colóquio de Fotografia e Imagem, realizado em Belém, em novembro de 2010 (Foto: Octavio Cardoso)
Ingressei no curso de Filosofia da UFPA no ano de 1991. Naquela altura, o nome de Benedito Nunes já era conhecido no círculo universitário brasileiro e internacional. Em minha memória fantasiada, ele havia se aposentado um ano antes, em 1990, mas a verdade é que ele se afastou pouco tempo depois de meu ingresso – talvez esta tenha sido a forma que encontrei de lidar com a grande lacuna e a frustração de não ter sido seu aluno regular nas disciplinas da grade curricular do curso de Filosofia, possivelmente porque ele já não ofertava matérias obrigatórias nos últimos anos de atuação docente.
Sua influência, no entanto, sempre foi, de várias maneiras, inescapável para todos os meus colegas de geração, os “não alunos”. A que mais me recordo era o mito da imponência de sua biblioteca. Todos sabiam que seu acervo pessoal não tinha paralelo na cidade e talvez nem na região norte, e alguns dos meus amigos da época se vangloriavam porque frequentavam a acolhedora casa da Travessa da Estrella, recebidos entre livros, cafés e canjas. Eu não pertencia ao grupo privilegiado; mitificar sua figura era comum, embora não fosse condizente com sua gentileza e abertura, mas era o que eu fazia; daí o pudor inicial em incomodá-lo, uma vergonha insuperável de estar na sua presença. Só muitos anos depois pude visitá-lo, em duas ou três ocasiões, não mais que isso, em períodos de férias que passava na cidade natal, quando já morava entre São Paulo e Rio, onde sua importância era mais definida e para mim mais precisa, já livre das idiossi
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