Já podemos falar dos nossos traumas?
O artista Wilson Simonal (Divulgação)
Pensando sobre a relação entre os grandes traumas que se abateram sobre o Brasil ao longo de sua história e a recente eleição para Presidente da República em nosso país, me lembrei do documentário Simonal – Ninguém sabe o duro que dei. Para mim, esse não é apenas um documentário sobre um grande cantor brasileiro, mas, na verdade, um documentário que traça um diagnóstico sobre os dois maiores traumas que constituem a nossa história: a escravidão e a ditadura militar (talvez devêssemos falar também num terceiro trauma, o primeiro e original: o extermínio dos povos indígenas ocorrido no processo de colonização do Brasil e que, como os dois outros traumas seguintes, continua em curso; mas já que escolhi esse filme para tratar do tema do traumático em nossa sociedade, vou abordar apenas aqueles dois traumas de que ele trata). Tais traumas deixaram em nossa sociedade sequelas permanentes e feridas não cicatrizadas.
Eu descreveria o documentário dirigido por Micael Langer, Calvito Leral e Cláudio Manoel como aquele que coloca a seguinte questão, ao menos para os que a ele assistem como eu assisti: qual foi o acontecimento mais traumático da história do Brasil, a escravidão ou a ditadura militar? Nas últimas eleições, ambos os traumas voltaram com força, assombrando‑nos com seus fantasmas. Mas o que havia de incômodo e até de angustiante nesse documentário exibido em 2009 era o fato de Simonal ser ali mostrado claramente como vítima no primeiro trauma, mas algoz no segundo.
Que toda a trajetória de Wilson Simonal tenha sido
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