Niccolò Macchiavelli: a necessidade do poder
Niccolò Macchiavelli elaborou uma obra de amplo espectro filosófico e largo emprego político
Nascido há 534 anos, em 3 de maio de 1469, em Florença, Niccolò Macchiavelli (em português Nicolau Maquiavel) elaborou uma obra de amplo espectro filosófico e largo emprego político, fundamentalmente conhecida por meio de O Príncipe.
Maquiavel, no entanto, desenvolvia intensa produção textual anterior à sua obra mais popular – que ganhou publicação formal depois de 19 anos, em 1532, após a autorização do papa Clemente VII e o patrocínio de um cardeal romano. Del modo di trattare i popoli della Valdichiana ribellati (Como tratar a população rebelada de Valdichiana) é considerado o primeiro escrito político de Maquiavel, segundo o biógrafo Roberto Ridolfi, que escreve: “É o primeiro escrito não pedido por necessidade imediata da chancelaria, o primeiro de sabor quase literário que mais o destaca dos precedentes”.
Como historiador, escreveu a História de Florença, que o aproximava, no momento de criação, não só de livros, mas do convívio com aqueles da cidade. Gostava das conversações, embora sempre de olho no enredo da política italiana. Retomou, por exemplo, livros deixados pelo pai bibliófilo, Bernardo, conhecido como avarento, entretanto pouco economizador com aquisições e encadernações, pois era apaixonado por livros de leis e humanidades. Um dos muitos dados curiosos levantados por Ridolfi, na biografia do autor, é a ausência de uma Bíblia na casa de sua família. Ironia para a história de um pensador como ele, que foi também assessor de papas e cardeais. Como comediógrafo, escreveu A mandrágora e Clizia – esta motivada pelo laço afetuoso entre o autor, com 56 anos, e Barbera, uma jovem cantora. A comédia brinca com certa melancolia sobre seu tardio amor. Além disso, Maquiavel se dizia poeta.
Maquiavel foi homem público numa cidade de ásperos contrastes, de fraqueza militar e política já no começo do século XIV e sintomas exatos de decadência (crise econômica) no século posterior. Sua vida e obra embaralham-se com a história de Florença e da Itália. A cada nova missão, permeada por situações de guerra e conflitos internos políticos em sua terra, ele produziu, mas foi no período de desterro, a partir de 1513, que escreveu os Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, o poema “O asno”, o conto “O Demônio que se casou” e A mandrágora, obra-prima do teatro italiano. De volta à cena pública, redige o diálogo A Arte da guerra e a biografia romanceada Vida de Castruccio Castracani, no ano de 1520. A extensa História de Florença o perseguiu por anos, próximo do fim, até 1525.
Já os pecados, ele os confessou a frei Matteo no dia da morte, em 21 de junho de 1527.
Janaína Rocha, jornalista