9 Teses contra o Coronelismo Intelectual

9 Teses contra o Coronelismo Intelectual

1- “Coronelismo intelectual” é a prática mais idiota da “intelectualidade” brasileira.

2 – O Coronelismo intelectual se caracteriza pela propriedade privada da coisa pública: há os donos da filosofia, da teoria literária…

3 – Da antropologia, da sociologia, da história da arte, dos estudos sobre Kant, Hegel, P. Freire, Marx, Adorno, Benjamin, Wittgenstein …

4- O Coronelismo intelectual odeia o olhar divergente e a pergunta dos outros, porque teme a dúvida como o diabo foge da cruz.

5 – O Coronelismo intelectual odeia a partilha das ideias. É avarento e pratica a usura. Cafetinagem intelectual é o seu outro nome.

6 – O Coronelismo intelectual odeia a invasão dos Sem Ideias no território das ideias prontas. Contra ele todo assalto é desejável.

7 – O disfarce do Coronelismo intelectual é o discurso verdadeiro. Ele fala difícil e finge a pesquisa e o rigor acadêmicos.

8 – Coronelismo intelectual: o lobo do medo na pele de cordeiro do bom senso.

9 – Coronelismo Intelectual: prática de fundamentalismo teórico e devoção exegética ao texto. Contra ele pratiquemos a pornografia teórica.

(17) Comentários

  1. marcia, genial estas tuas 9 teses. o coronelismo intelectual vem se sofisticando a cada momento. principalmente com a situação hoje de que ele foi tornado uma espécie de bem-feitor; um guardião da moral e dos bons costumes de cativos e cativas do pensamento. é só dar uma boa olhada no que se anda produzido (estilo literário e conteúdo) para cumprir as normas e pontuações da capes, cnpq, etc. e mais, no mercado editorial brasileiro (que já começa suspeito por ser mercado) tudo o que já foi dito milhares de vezes e tudo aquilo que não precisa ser dito é exatamente o que se publica. o que deve ser dito não tem espaço (claro, que as vezes escapam algo, como os seus livros e uma publicação aqui e outra ali publicada pelo bolso de quem escreve). concordo contigo e tomo como inspiração primordial, o combate que tu apontas contra esse protagonista perverso que é o coronel intelectual; o antagonista necessário dessa relação agonista: o cangaço intelectual (sua sexta tese) – lampiões e marias bonitas do pensamento brasileiro, uni-vos! (para não perder essa boa frase – rs).

  2. Li este artigo ( http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-filosofia-pop-em-questao,719044,0.htm ) e achei interessantíssima esta frase: “Quem leva o pensamento a pensar trata o acontecimento com atitude marcial. Pela “marcialidade” o pop não forma discípulos, forma “guerreiros”, que improvisam em presença do imprevisto.”
    Tem tudo a ver com o teu nome: Marcia, marcial, marcialidade. Colocaria aqui, pela base decimal, que a 10a teoria contRa o Coronelismo Intelectual seria a tua filosofia pop, ou melhor, o teu FILOSOFIA POP.
    Beijos.

  3. É isto aí! Tentei formular mais uma tese, mas, tudo que eu pensava uma das suas já contemplava. Então, vou de pop mesmo: se uma Márcia Tiburi apenas por sua genialidade incomoda esta patrulha, imagine uma Marcia Tiburi repleta de seguidores! Eles vão se matar! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

  4. No meu caso (na minha instituição), o coronelismo parte justamente dessa “filosofia pop” aí (se é que existe isso, só o nome já me causa calafrios). Proclamam as “pluralidades”, as “diversidades”, as “subjetividades”, o “antinormativismo”, enfim, toda essa abominável panaceia pós-moderna, mas na prática acadêmica o que se vê é o coronelismo, autoritarismo, intolerância, ausência de diálogo, mesquinharia – tudo já tão e há tanto tempo criticado por nomes como José Veríssimo, Sérgio Buarque de Holanda, Luiz Costa Lima e outros, estes sim, verdadeiros intelectuais. Por isso, penso que a academia é intelectualismo ou a burrice institucionalizada. Não há pensamento e nem é possível que haja nesse ambiente.

  5. Também chamado ‘Terroria’.
    Contra o coronelismo intelequitual,contra o xulé pedante da terroria pode-se
    usar o ‘…ria’.
    Suprema consistência da sacanagem dos clowns.

  6. Sem dúvida, mais um ótimo texto, e que possui grande intertextualidade com o “Fascismo Potencial” na edição anterior. Aliás, preciso e oportuno, pois acontecem importantes congressos internacionais com intelectuais prestigiados em São Paulo.
    Beirando o fatalismo: mas o que fazer em uma sociedade patriarcal e despolitizada que “forma cidadãos” para obedecer e não pensar.
    Retomando, gostaria de destacar dois fenômenos concomitantes ao descrito no texto: o de autores consagrados e que não são tidos como clássicos, no âmbito internacional, como Slavoj Zizek e Bernard Lahire que possuem muitos “seguidores”, e no âmbito nacional, nomes como de Lilian Moritz Schwarcz e Laura de Mello e Souza que compõem a Intelligentsia Tupiniquim, para citar apenas alguns nomes. Muitas vezes indispensáveis à reflexão, interpretação ou explicação dos mais diversos “objetos”.
    E o outro fenômeno trata-se do processo dialético entre conservadores e vanguarda, onde esta última busca desconstruir e invalidar o discurso conservador para a troca ou renovação das posições no campo intelectual e a hegemonia do discurso.
    O coronelismo intelectual se dá, em parte, graças ao que Sérgio Buarque de Holanda chamou de bacharelismo criando uma “meritocracia de mandarins” (Peter Drucker) seguindo o modelo do sistema capitalismo (monopólio, acumulação e produção para obsolescência).

  7. ‘6 – O Coronelismo intelectual odeia a invasão dos Sem Ideias no território das ideias prontas. Contra ele todo assalto é desejável.”

    ?!?! Mas… Não deveria ser o inverso?!

    Eles deveriam adorar os sem idéias pois estes precisam desesperadamente incorporar idéias prontas, no caso, proprietárias, e é exatamente isso que esse privatismo de pensamento gosta. Considerando que diferente de terras, idéias podem ser multiplicar infinitamente sem custo por não estarem sujeitas a escassez.

    Os tais coronéis intelectuais deveriam antes odiar os ‘Com Idéias Próprias’, porque nestes não podem, ou tem mais dificuldade, de inseminar as deles.

    Acho que a imagem dos latifundiários não faz muito sentido. Antes a de um Garanhão que quer ‘cobrir’ todas as mentes disponíveis sem admitir competidores dentro de seus haréns particulares.

    Marcus Valerio XR
    xr.pro.br

  8. Sim, mas quando falei em “Sem Ideias” me referia aos “Sem Terra” da filosofia. Talvez eu tenha que elaborar melhor isso. Obrigada pela análise. Abs, Marcia

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