300 anos de Rousseau

300 anos de Rousseau

O tricentenário do nascimento do filósofo iluminista Jean-Jacques Rousseau, é marcado por uma grande exposição na Biblioteca da Assembleia Nacional de Paris, que vai de 10/2 a 6/4.

Pela primeira vez na história, tem-se reunida uma excepcional coleção de documentos originais que podem reproduzir os diversos aspectos da relação entre o pensamento do filósofo e a revolução francesa. Além dos manuscritos, a exposição conta com um grande acervo de imagens e documentos que perpassam a vida e a obra do cidadão de Genebra.

Grande parte deste material está disponível para acesso no portal da Biblioteca.

(1) Comentário

  1. Jean-Jacques Rousseau tem alguns tropeços como achar que a humanidade era boa por natureza e que a sociedade que a corrompia. Tratar as mulheres como parceiras do homem, o que era uma submissão melhorada.
    Mas sua obra ainda é saborosamente importante para entender o século XVIII, a nós mesmos e ajudar a pensar ações político-culturais para estes tempos sombrios e de grande mobilização. Abaixo uma apologia sobre este pensador que completa 300 anos de existência e sua bibliografia para os que quiserem se apronfundar.
    CRÍTICO DA CULTURA HUMANA -Mas a importância deste pensado da república de Genebra não pode ser subestimado. Grande crítico de seu tempo, o filosofo suíco ía na contramão dos pensadores iluministas como Voltaire, Diderot e Montesquie, que acreditam que a luzes da razão estavam levando o homem para um mundo mais livre e fraterno. Ao contrário, Rousseau via os avanços da razão humana, mas com cautela. Para Ele as ciências, a filosofia e as artes estavam fundadas na vão curiosidade e na vaidade, caminhando para uma sociedade cada vez mais artificial e dominadora. Era preciso tomar cuidado com o conhecimento humano, o modo como era usado. (Discurso sobre as ciências e as artes.)
    PENSADOR POLÍTICO – Grande leitor dos clássicos políticos greco-romanos e do pensamento político moderno (Hobbes, Locke, Maquiavel, Marlebranche) o genebrino gosta do pragmatismo espartano, a democracia direta ateniense e grande crítico do poder soberano absolutista. Para este o poder soberano é o do povo que deve ser estabelecido por um contrato social onde o povo diretamente deve se legitimar e atuar e não mais alienar seu poder soberno em nome de alguém, como gostavam Hobbes e Maquiavel. As assembléias do povo não poderiam cair no erro fácil da ateniense (excludente) e ser decidida pelo voto da maioria mas pela VONTADE GERAL. Uma espécie de consenso ético-político, a vontade geral era necessária para evitar os erros de uma ditadura da maioria que queria vencer pela retórica demagógica. A vontade geral, a grosso modo, se constrói pelo pensamento coletivo, pensado em conjunto e não se confunde com a soma das vontades particulares, mas pelo entendimento do que realmente é necessário para aqueles que estão ali reunidos. Na democracia do voto majoritário nem sempre o que é o mais acertado vence, porque mil interesses que não agradam estão em jogo. a vontade geral tenta dar uma luz a este paradoxo democrático. (O contrato Social)
    PEDAGOGO – Grande critico da educação feita na época, Rousseau, que foi tutor de alguns nobres, escreve Emílio e A nova Heloisa, a fim de criticar os critérios, conteúdos e métodos educacionais da época. Segundo o pensador a educação de sua época ou formava pessoas dogmáticas ou, quando mais iluminista, uma pessoa menos autêntica e afastada da natureza. Para recuperar o homem autêntico (que eu não sei bem o que é hehe) era preciso acabar com os artificialismos na educação e preparar a humanidade para um vida mais harmoniosa entre natureza e sociedade, evitando os exageros e as ostentações de todo tipo, em busca de uma pessoa mais autônoma e consciente politicamente. Rousseau é considerado por muitos estudiosos como o pai da pedagogia moderna. (Emilio e Nova Heloisa)
    ECOLOGISTA – Claro que este termo – ecologia – não existia no século XVIII. Mas Jean-Jacques é considerado por muitos um pioneiro. Além de sua conhecidíssima apologia da natureza, Rousseau insistia na recuperação da volta da harmonia entre sociedade humana e natureza. Esta harmonia ancestral perdida com a propriedade privada, marco fundante da sociedade humana. Não devemos voltar a morar em florestas, mas construir um mundo onde o natural e o artificial (feito pela mão do homem) não se excluam e possam conviver. Para isso era preciso um estudo sobre a natureza de maneira respeitosa a fim de melhor entende-la e saber usá-la, não por seu valor utilitário mas porque somos parte do todo, devemos conhecê-lo e se integrar a ele. Rousseau foi um grande estudioso de ervas medicinais, possui um jardim botânico onde estudava as propriedades das plantas. O afastamento do homem da natureza, devido ao alto artificialismo da vida em sociedade, era uma das causas de sua corrupção e degeneração.
    ARTISTA DE VANGUARDA – Profundo conhecedor de música, o helvético pensador escreveu um verbete sobre esta na famosa Enciclopédia iluminista (aquele que desejava catalogar e divulgar todas as conquistas da razão humana no século XVIII) contrariando em muita a visão que se possuía sobre esta arte naquele período e chegou a compor algumas partituras. Brilhante escritor, sua obra Nova Heloisa, inaugura um novo estilo literário conhecido como Literatura Espistolar – que ficará muito conhecida com o livro libertino Ligações Perigosas. Sua maneira poético-politica de escrever pode ser sentida em seus panfletos que entregava pelas ruas de Paris ou por suas autobiografias como As Cartas Escritas da Montanha. Mas, creio eu, sua vanguarda está na opera intitulada Le devin Du Village (O adivinho da aldeia) onde Rousseau repensa toda a estrutura da forma da opera.
    As operas e balés apresentados na corte da Paris costumavam ser apresentado em teatros onde a platéia ficava passivamente assistindo as obras. O teatro também foi construído de tal modo que o rei absolutista fosse sempre o centro da atenção e a opera sempre se curvava em direção a ele.No Adivinho da aldeia Rousseuau constrói um cenário onde não há hierarquias e onde a platéia participa da peça. Sua intenção é criticar a hierarquia da nobreza e do clero, bem como a passividade dos súditos. Com a participação da platéia Rousseuau sinaliza politicamente que o povo não deve girar em torno de um soberano tirano mas, antes, deve ter participação ativa no processo político. Oiticica e Ligia pape aplaudiriam essa participação ativa do publico na obra de arte, esta metáfora da vida em sociedade.
    Rousseua foi bem perseguido por contrariar interesses políticos, religiosos, educacionais, privilégios e dogmas de seu século. Grande influencia exerceu sobre Kant, Nietzsche, Marx e os sociólogos utópicos, sua obra crítica pode nos ajudar a melhorar nossa falida democracia e caminhar para um mundo autogestionavel, com pessoas criticas, solidárias e que vivem em harmonia com a natureza, da qual fazemos parte inexoravelmente.
    Seu pensamento e obras vão muito além dessas singelas linhas, grande escritor-poético, Rousseua servirá para nossas lutas e encantamentos.
    Exposição em Paris faz homenagem a este pensador da contracorrente. Parabéns por seus 300 anos, agora vamos pra Paris!

    http://revistacult.uol.com.br/home/2012/02/300-anos-de-rousseau/

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