White Christmas nos trópicos
Edição do mês
Crianças brincam na neve trazida dos Estados Unidos em San Juan, Porto Rico, 1952 (Museo Casa Felisa Rincón De Gualtier)
Li pela primeira vez “Nacional por subtração”, de Roberto Schwarz, na tradução em espanhol publicada na revista argentina Punto de Vista, em 1986. Lembro que me senti imediatamente interpelado. Schwarz captava algo crucial da experiência política e cultural, e do tecido social do mundo caribenho. A coincidência não era fortuita. Desde as primeiras palavras do ensaio, ele instaurava sem rodeios o dilema colonial da “cópia e do original” como experiência formativa: “Brasileiros e latino-americanos fazemos constantemente a experiência do caráter postiço, inautêntico, imitado da vida cultural que levamos. Essa experiência tem sido um dado formador de nossa reflexão crítica ”. Ao destacar a dimensão latino-americana, Schwarz nos convocava como interlocutores.
Interessaram-me especialmente os exemplos que Schwarz apontava com certa distância irônica: desde o “Papai Noel enfrentando a canícula em roupa de esquimó” até a “fachada liberal do Império, calcada no parlamentarismo inglês, e o regime de trabalho efetivo, que era escravo”. Cópia, fachada, falsificação, paródia. Como porto-riquenho, tudo me soava familiar, ainda que com variações perceptíveis nos desvios das ilhas e de suas línguas, nas quais, com frequência, se procurava ocultar a aliança das classes dominantes com os impérios.
Em 1952, ano em que Porto Rico passou a se chamar oficialmente Estado Livre Associado de Porto Rico, Felisa Rincón de Gautier, então prefeita de San Juan, negociou com a Eastern Airlines para que um avião trouxesse neve de New H
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »





