‘Um cineasta tem que ler muito e andar a pé’, aconselha Werner Herzog

‘Um cineasta tem que ler muito e andar a pé’, aconselha Werner Herzog
O cineasta alemão Werner Herzog em 2011 (Foto Raffi Asdourian)

“A cultura tem um caráter fundamental, básico”. Foi com essas palavras que o diretor regional do SESC São Paulo, Danilo Santos de Miranda, abriu o 3° Congresso Internacional de Jornalismo Cultural, realizado pela Revista CULT e SESC São Paulo e que teve início às 10h15 desta terça-feira (17), no teatro do SESC Vila Mariana. Paloma Rocha e Sara Rocha, respectivamente filha e neta de Glauber Rocha e responsáveis pelo Tempo Glauber, também receberam homenagem. Um minuto do filme Anabazys, de autoria de Paloma, foi exibido antes que elas subissem ao palco. “Estou muito emocionada de estar aqui. No filme, Glauber pede: acorda, humanidade! Esse Congresso é importante; meu pai começou a carreira como jornalista”, disse Paloma, antes de deixar o palco a cargo de Werner Herzog e Luiz Zanin (mediador).

Durante duas horas, o cineasta alemão falou para um auditório lotado. Começou ressaltando a importância de Glauber Rocha para o cinema mundial, e contou que os dois estiveram juntos por um mês em 1975: “conversamos sobre andar a pé, escrever e ler”. E acrescentou: “ele não morreu. Ele não nos deixou. Só tem uma pessoa que representa tanto a alma do Brasil quanto Glauber, que é o [Mané] Garrincha. E nenhum dos dois está morto”.

Um dos assuntos em debate foi seu novo filme, o documentário Cave of forgotten dreams, gravado em 3D e que registra as pinturas rupestres de uma caverna na França. “Os desenhos têm qualidade incrível. As cavernas estão preservadas como cápsulas do tempo, o chão está intocado, tem até pegada de ursos que estão extintos há anos. A única exceção é um corredor de 60 centímetros de largura por onde pude passar”, conta ele. “Não sou amigo do 3D, mas foi imprescindível porque as cavernas têm protuberâncias e saliências, não são superfícies planas, e tudo isso foi usado pelos artistas”, completou.

Ao abordar a realidade do cinema hoje em dia, o diretor apontou as facilidades: “Com menos de US$ 10 mil é possível filmar. Trabalhe como guarda de um manicômio, em um abatedouro, ou em um clube de sexo, onde há vida real. Ganhe dinheiro e faça filmes. Hoje, não há desculpas”. E aconselha: “se for preciso, roube uma câmera, falsifique documentos”, e utiliza de exemplo o filme Fitzcarraldo (1982) que, segundo ele, “não teria sido feito sem documentos ilegais”.

Ao finalizar, o cineasta aconselha: “Se você quer se tornar cineasta, eu digo: tem que ler muito e andar a pé”.

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