O que o ato de colecionar nos fala sobre o presente?
Carteira da Biblioteca Nacional de Paris, 1940 (Reprodução)
Compor uma coleção consiste num exercício constante de montar uma narrativa, não só através do ato de selecionar os objetos, mas também de eleger quais deles serão exibidos. Trata-se de uma ação atravessada pela dialética da reificação e da reanimação como lembra Hal Foster em “Arquivos da arte moderna”, de 2009. O colecionador é o mediador da circulação dos objetos, movimentando seu ciclo de vida e morte (exibição e apagamento). É aquele que não apenas coleta, mas também o que investe suas memórias e afetos nesse corpo externo, construindo nele a extensão de sua existência.
Essa prática de colecionar foi, em diferentes textos, analisada por Walter Benjamin como um fenômeno da modernidade presente tanto no habitar burguês, quanto no ambiente urbano. O burguês coleciona objetos no interior de sua moradia como um antídoto ao anonimato da cidade, ambiente marcado pelas multidões, pelo apagamento da individualidade e pela intensa transformação dada pelas reformas urbanísticas como as de Paris no século 19 por Hausmann. Ele se fecha em sua casa-estojo. Como Benjamin descreve no texto “Experiência e pobreza”, de 1933, essa relação entre indivíduo e objeto é representativa, o burguês investe memórias e afetos nele, por isso, se encoleriza ao ver seus bibelôs quebrados, imagem que simboliza o apagamento de sua existência no mundo. Habitar nessa condição burguesa significa deixar rastros.
‘O tropeiro’, 1869 de Edouard Manet (Reprodução)
Além do colecionador burguês, Benjamin identifica outra figura marcad
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