Pequeno voo sobre as desafiadoras cordilheiras do agora
Elisa Lucinda, criadora da feira literária capixaba Festa da Palavra (Foto: Divulgação)
Alta primavera, novembro negro, 2023
Salve a rainha, dona palavra. Cresci crendo nela, me desenvolvi tendo a palavra como equipamento de compreensão entre os mensageiros da fala. A música corriqueira dos humanos. Fui moldada na palavra poética ainda menina, de modo que o poema, para mim, é terra firme tal qual a ilha para o náufrago. Sempre vivi a palavra como território. Um lugar de não opressão, uma trégua, uma quebra na tradição opressora dos silêncios. Meu pai dizia que na educação é que estava nossa nova abolição. Então montei cedo no lombo da palavra sem entender completamente a extensão de tal revolução. Mas era coisa de respeito lá na casa de minha infância. Valia. Era bonito ser uma pessoa de palavra. Quando vi seu massacre, sua confusão na desastrosa “gestão” do inelegível, estremeci. Palavras de Jesus usadas na boca do mal? Jesus, o doidão revolucionário que peitou Roma e mandou César guardar a moeda dele onde bem entendesse? Palavras sendo usadas para defender abusadores, torturadores?
Eu me senti despatriada, em exílio de entendimento entre enunciados, entre discursos fascistas hasteando bandeiras de confusas liberdades.
A extrema direita atacava novamente avançando sobre nossas plataformas como cães raivosos desgovernados, sem vacina contra raiva. Ainda às vésperas da nossa pior escolha presidencial, quero dizer, aquela catastrófica eleição de 2018, estive relatando ao meu filho, Juliano Gomes, uma experiência desagradável que havia tido, do ponto de vista intelectual e ideológico, com algumas artistas
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