Dinâmicas de emergência
Colagem de Manuela Eichner e Zé Vicente (Foto: Reprodução)
O primeiro aspecto que chama a atenção neste livro vigoroso é a intersecção tensa entre a tradição dialética alemã e a filosofia francesa dita “pós-estruturalista”. Vladimir Safatle tem clara consciência da hostilidade de toda uma geração com respeito a Hegel. É bem possível, como ele supõe, que tal hostilidade tenha sido dirigida menos a Hegel do que a uma imagem que se cristalizou a seu respeito na França. Fazem parte dessa imagem aspectos como sua suposta teleologia, um necessitarismo, a totalização, a primazia da identidade, em suma, o que se convencionou chamar de filosofia da representação. Deleuze, para tomar o exemplo escolhido pelo autor, talvez tenha brigado mais com a imagem um tanto caricata de Hegel do que com sua filosofia. Em outras palavras, talvez tenha recusado sobretudo os efeitos dessa imagem – seus espectros. Como dizia sobre o assunto, brincando: “Il faut bien que quelqu’un joue le rôle du vilain!” (Afinal, alguém precisa desempenhar o papel do vilão!). E talvez Deleuze tenha atribuído a esse espectro de Hegel o papel do vilão na construção de seu próprio sistema aberto.
Portanto, a decisão de desmontar a interpretação de Deleuze sobre Hegel tem aqui sua pertinência e legitimidade. Daí o empenho em mostrar que a contradição não é mera contrariedade, que a atualização do infinito pelo Espírito não se apoia num fundamento nem culmina na identidade, mas, ao contrário, dissolve o fundado num abismo, cuja superação é inquietude absoluta, puro mover-se-a-si-mesmo; que o ressentimento n
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