A violência do essencialismo e do universalismo: o que define uma mulher?
Dani Balbi, primeira transexual eleita deputada estadual pelo Rio de Janeiro, no Dia da Visibilidade Trans de 2023 (Foto: Fernando Frazão/AB)
Com a pergunta emblemática da abolicionista Sojourner Truth: “E não sou uma mulher?” Para muitos, a resposta é bem simples, sim ou não, dependendo de suas crenças dentro do espectro de pensamento feminista (ou ideologia) com que você olha para uma travesti. Mas, quando falamos da categoria mulher, surgem inúmeras definições que tentam encaixar as características que definem “uma mulher”. Pensadores trans-excludentes (feministas radicais e grupos conservadores) vão dizer que é a realidade material que define nossas experiências, e que a realidade material de alguém com cromossomos XY não pode ter uma “identidade mulher”. Ou seja, é preciso nascer mulher no sentido biológico. Essa lógica inverte a prerrogativa feminista de Simone de Beauvoir: “Não se torna uma mulher, nasce-se”. Para essa conversa eu sigo a perspectiva de Michel Foucault, de que a identidade não é algo fixo, e de que a subjetividade de um indivíduo é mediada e produzida em seu contexto histórico e cultural. Todos os marcadores sociais (raça, gênero, classe, sexo etc.) fazem parte da nossa realidade material, portanto as simplificações de uma experiência empírica e material com base em fatores específicos (e inconsistentes com a realidade) não levam em conta os contextos que vivemos.
Traço um paralelo entre a perspectiva do feminismo negro que levanta uma suspeita sobre o “feminismo branco” (que fala por todas as mulheres) e o feminismo radical trans-excludente, que para mim desempenha o mesmo papel. A primeira onda de feminismo que conhecemos f
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