Llosa e Müller
Dois dos maiores escritores vivos, o peruano Mario Vargas Llosa e a alemã Herta Müller protagonizaram um raro encontro, no último domingo, na Feira Internacional do Livro de Guadalajara (México).
A literatura “cria um tipo de desassossego que nos torna mais difíceis de sermos manipulados. Por isso, sempre foi considerada suspeita pelos regimes que querem controlar a vida das pessoas. A literatura é um instrumento de defesa da liberdade”, afirmou Vargas Llosa (1936), ganhador do Nobel de ano passado, segundo reportagem publicada no diário espanhol “El País”.
Já para Müller (1953), que viveu sob o regime totalitário do romeno Nicolau Ceaucescu (1965-89) antes de emigrar para a Alemanha, “a escrita é a chave para compreender a vida. É um meio único para opor-se às ditaduras”.
Falando de sua relação pessoal com a literatura, Vargas Llosa relembra a importância das leituras que fez, durante a infância, de autores como Julio Verne e Alexandre Dumas: “Significava viajar no tempo e no espaço e viver experiências que não podia ter na realidade. Quando saía da literatura, eu parecia viver uma vida indigna. Ela nos ensina sobre o que a vida é também sobre o que não é, e por isso ela é uma dos grandes instrumentos do progresso humano”.
Já Müller, que ganhou o Nobel em 2009, definiu a literatura como “uma bruxa que nos indica o norte quando as outras pessoas ainda não sabem de sua existência. Graças à escrita, consegui entender por que meu pai se envolveu com as SS [tropas de elite nazistas]. Escrever é manter a recordação sob controle”, conclui.