Uma reflexão sobre religião e capital
O capitalismo é uma religião, como alertou Walter Benjamin há 100 anos. Empreendimentos religiosos que assumam isso na prática, enquanto usam o discurso como ocultamento do próprio jogo, têm imensa chance de fazer muito sucesso no estágio atual do capitalismo neoliberal. Nesse cenário, o mercado como espaço de trocas, no qual absolutamente tudo é transformado em mercadoria, se construiu sobre todo tipo de mistificação. O neopentecostalismo aproveita-se disso nos novos tempos, pois é extremamente lucrativo vender Deus, Jesus e outras velhas commodities.
A religião neoliberal do neopentecostalismo faz jus ao neoliberalismo como religião. Nele, o próprio desespero humano foi transformado em moeda de troca, um passaporte para entrar no templo, até que o crente tenha que vender a alma para permanecer ali. Nesse contexto, Jesus é invocado como gerente espectral capaz de livrar o indivíduo do sofrimento, exigindo apenas a entrega do capital para a religião. Jesus é reduzido a uma isca, um espantalho ou uma senha, dependendo do tipo de “gatilho” que o mercado da fé precise produzir.
O mamonismo atual não poupa nem o desgraçado nem Jesus. Assim, o desespero é a moeda, mas também, como “mal a ser extirpado”, é a mercadoria. O sofredor é coisificado e escravizado. Ele é calculado no mercado da desgraça, sem o qual não existiria a economia teológica da prosperidade.
É nesse cenário que uma iniciativa como a do padre Júlio Lancellotti diz algo a mais. A ação do padre, que ajuda pessoas em situação de drogadição que vive
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »