Privado: Uma ode psicodélica
por Mariana de Ávila
O projeto sonoro de Lula Côrtes e Zé Ramalho, concebido em meados dos anos 1970, é metamórfico. O sertão não só virou mar, como incendiou e foi abduzido pelos ares.
O LP duplo, com cada um dos lados dedicados a um dos quatro elementos, tem tantos acentos quanto o próprio nome: Paêbirú (caminho da Montanha do Sol, segundo os incas). Sons agudos de flautas e de ouvações, convexos de sax e de guitarras distorcidas circunflexos no encontro do xaxado com sons da natureza. Um experimentalismo até então não visto no país, mas lisérgico como o mundo já experimentava na psicodelia. Uma ode mitológica.
“Trilha de Sumé”, “Culto à terra” e “Bailado das muscarias”, primeiro trecho da obra, representa bem o que está por vir nos discos: sons audíveis que viram ruído e confusão e vice-versa, dando a impressão da busca incessante dos artistas pelo transcendental, que muitas vezes parece intangível. O ouvinte não tem um momento de descanso. É conduzido a um encontro sobrenatural por barulhos de boca, cítara, ritmo oriental, palavras de ordem que convocam o universo e natureza, batuque, chocalho e guitarras.
O objetivo do disco – vivenciar as lendas regionais por meio da experiência com o natural e da alucinação – é delineado em “Nas paredes da pedra encantada, o segredo talhado por Sumé”: “Quando as tiras do véu do pensamento / Desenrolam-se dentro de um espaço / Adquirem poderes quando eu passo / Pela terra solar dos cariris / Há uma pedra estranha que me diz / Que o vento se esconde num sopé / Que o f
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