Uma mulher Guarani Nhandewa
Mulheres guarani em protesto em frente à prefeitura de São Paulo em 2019 (Foto: ROMERITO PONTES)
Sou Sandra Benites Guarani Nhandewa, minha origem é a aldeia Porto Lindo, no município de Japorã, Mato Grosso do Sul, lugar em que nasci e vivi até o ano 2000. Depois fui morar na aldeia Boa Esperança, no município de Aracruz, Espírito Santo, onde existe aldeia Tupinikins e Guarani.
Como na minha infância eu tinha várias dificuldades para estudar, nunca imaginei que iria chegar ao doutorado. Nem sabia o que era ser doutora e ainda bem que não sabia que essa posição de doutor é tão importante para os djurua, os não indígenas. Porque, se eu soubesse, talvez não carregaria comigo o conhecimento que a minha avó me ensinou.
Na época em que eu estudava na escola, ninguém podia falar na língua Guarani, minha língua materna, nem escutava a história que minha avó contava para nós. Os professores não eram falantes Guarani, não eram indígenas; era diferente de hoje, quando a grande maioria das aldeias têm professores da mesma etnia e falantes das línguas daquelas comunidades.
Mas nós, alunos, éramos falantes Guarani e não sabíamos falar português, e mesmo assim éramos obrigados a ler e escrever numa língua que não falávamos nem entendíamos. Lembro disso como se fosse ontem: a agonia e o medo, pois sabia ler o que estava escrito no papel mas não compreendia nada, porque era numa língua estranha. Em casa, todos falavam somente em Guarani, e eu comecei de fato a aprender a falar e compreender a língua portuguesa quando tinha entre 27 e 30 anos.
Hoje, depois que percorri vários espaços, inclusive o acadêmico, eu pude
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