Uma ferida do não entendimento

Uma ferida do não entendimento

“Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido”, dizia Malcolm X. O fenômeno do momento é: quanto mais se faz pelas massas, mais os meios de comunicação fazem as massas se voltarem contra quem as ajudou.

 

Arte Andreia Freire
Arte Andreia Freire

 

É extremamente difícil falar, pensar, externar sobre uma dor que vem acompanhada de não compreender o que deu errado. No último dia 2 de outubro, abriu-se uma ferida do não entendimento: estou tentando entender como as pessoas se voltaram contra o que lhes faz bem. O discurso coletivo é “quero o fim da corrupção”. Mas elevaram ao poder um partido que é investigado e processado por corrupção. Então, qual é a lógica?

Outro discurso propagado foi o “eu quero estudar e quero uma cidade mais justa”. Quando conseguiram, se viraram contra quem lhes deu essa oportunidade. Agora a maioria perderá o Fies, o ProUni e todos os incentivos à educação. Se a PEC 241 for aprovada, serão 20 anos com investimentos congelados na educação, na saúde e nos salários dos funcionários públicos. Detalhe: esta é uma atividade fim do governo. Se este não vai investir em saúde e educação, vai investir em quê? Propaganda?

É de cortar o coração saber que o dono de uma oficina de bicicletas não quis por perto quem implantou a ciclovia. É assustador ver que tratam uma eleição como partida de futebol — o técnico fez algo de que não gostam, vão lá e trocam, nem se lembram de tudo o que ele fez de bom, esquecendo que isso traz consequências gravíssimas. A apatia diante do prenúncio das perdas dos direitos conquistados com muito custo e com tantos sacrifícios.

Como entender a lógica de amar e adorar o opressor? Seria a “Síndrome de Estocolmo” em massa? “Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido”, dizia Malcolm X. O fenômeno do momento é: quanto mais se faz pelas massas, mais os meios de comunicação fazem as massas se voltarem contra quem as ajudou. Isso é muito louco.

Não adianta a massa achar que quando tem um trabalho melhor, um carro melhor, ou está em uma cadeira de avião é porque se voltou contra os seus. Pensa que ao se voltar contra os pobres será aceita pelos ricos? Os ricos é que nunca gostaram de pobre! Eles não vão os querer por perto a não ser como serviçais… Recordem as agressões vistas nos aeroportos, nos restaurantes, nas revoltas contra os direitos trabalhistas. Contra as empregadas domésticas, então, nem se fala. O ódio contra os negros nas universidades (“lugar de negro é na cadeia e não no Mackenzie”), nos colégios e até nos hospitais.

O que acontece com as pessoas que não se sentem  representadas pelos seus e ficam sem representação nenhuma? Como tirar a venda dos olhos  imposta pela mídia, abrir a mente e explicar que, se você não tiver um seu para lhe representar, não terá ninguém? Esta resposta vale ouro!

Parar de lutar pelo bem maior não tem negócio, não tem preço e não abrimos mão.

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