Tradição coreografada

Tradição coreografada

Marília Kodic

“O  Brasil, em seu extenso território, não tem como tesouro apenas suas belezas naturais, mas o calor e a graça de seu povo e sua imensa riqueza cultural”, diz a bailarina cubana Alicia Alonso, que se apresentou no país pela primeira vez há 50 anos. Dançarina e coordenadora do Balé Nacional de Cuba desde sua fundação, em 1948, Alicia traz ao país o mais novo espetáculo da companhia, A Lenda da Água Grande, que estreou em Cuba no ano passado e é inspirado na história do surgimento das Cataratas do Iguaçu.

Com coreografia de Eduardo Blanco e música de Miguel Núñez, o espetáculo teve sua versão cubana montada por Alicia, que acredita que “com a realização desse balé contribuímos para a divulgação do patrimônio cultural da humanidade, que é uma das missões da Unesco, organização da qual tenho a honra de ser Embaixadora da Boa Vontade”. Aos 90 anos, e sem pensar em parar de trabalhar, a dançarina diz: “Há ainda muito a fazer pela cultura em Cuba, na América Latina e em todo o mundo. Nós, artistas, temos uma responsabilidade muito grande e não podemos parar”.

Confira a seguir a entrevista completa.

CULT – Como surgiu a ideia de fazer um balé inspirado na lenda Guarani?

No caso particular de A Lenda de Água Grande, a sugestão veio a nós diretamente da Cooperativa Cultural Brasileira. Não nos era desconhecida a lenda das Cataratas do Iguaçu. Eu acho que, com a realização deste balé, contribuimos para a divulgação do Patrimônio Cultural da Humanidade, que é uma das missões da UNESCO, uma organização da qual tenho a honra de ser Embaixadora da Boa Vontade.

Qual a sua relação com o Brasil e a cultura brasileira?

O Brasil, em seu extenso território, não só tem como tesouros apenas suas belezas naturais, mas o calor e a graça de seu povo, e sua imensa riqueza cultural. Atuei pela primeira vez no Brasil em 1951, com o American Ballet Theatre, e com o Balé Nacional de Cuba em 1959, e continuei o fazendo durante muitos anos. O Ballet Nacional de Cuba teve a honra de inaugurar o teatro do Memorial da América Latina, em São Paulo – ocasião em que interpretei o pas de deux do segundo ato de O Lago dos Cisnes. Tenho muitos bons amigos em seu país, e os bailarinos brasileiros são uma presença permanente nos Festivais Internacionais de Balé de Havana. Uma grande dançarina clássica brasileira, Addy Ador, pertenceu durante algum tempo ao Balé Nacional de Cuba. Também guardo boas recordações do coreógrafo brasileiro Renato Magalhães, do qual interpretei um um balé de 1985.

Por que escolheu Eduardo Blanco para assinar a coreografia?

Eduardo Blanco é um talentoso coreógrafo jovem, que já criou várias obras para o Balé Nacional de Cuba. É uma artista muito entusiasmado e trabalhador.

Na sua opinião, qual a importância de se democratizar o acesso à dança?

Sempre considerei que tanto a dança cênica como todas as manifestações da cultura devem ser acessíveis ao povo. Desde o seu começo, o Balé Nacional de Cuba saiu do quadro dos espaços teatrais convencionais para oferecer apresentações para grandes audiências. Temos agido tanto em reconhecidos teatros de Paris, Moscou, Nova York e Londres, como em uma pequena cidade na Sierra Maestra, em Cuba, ou no Estádio da Universidade de Havana, para 50 mil pessoas. Em Cuba, como se sabe, é notório o apoio do Estado à educação e à criação artística. Sem esse apoio, não poderíamos ser uma Escola Nacional de Arte, que compreende a Escola Nacional de Balé, em que tantos artistas talentosos se formam a cada ano. Para estudar nesta escola, que é gratuita, os requisitos não têm a ver com questões econômicas, mas condições físicas e vocação.

Aos 90 anos, o que a motiva a continuar trabalhando com a dança? O que ela representa na sua vida?

A própria vida é a motivação fundamental.  E há ainda muito o que fazer pela cultura em Cuba, na América Latina e em todo o mundo. Nós artistas temos uma responsabilidade muito grande e não podemos parar.

Para a senhora, qual o segredo da longevidade?

Não é um segredo. A fonte da juventude está em nós mesmos. Para mim, cada aniversário é uma festa. Normalmente celebro rodeada pela minha família e amigos, e não importa quantos estamos fazendo. Mas eu posso dizer que o trabalho é vida, é uma grande fonte de energia. Nenhuma conquista é fácil. Por trás de cada resultado está o trabalho e a força de vontade. O desejo de viver, de existir.

Quais são os próximos passos do Ballet Nacional de Cuba?

Em agosto, o Teatro Bolshoi, em Moscou, me oferecerá uma homenagem com uma gala em que se apresentarão os bailarinos do Balé Nacional de Cuba e de Bolshoi. Depois, em setembro, iniciaremos uma turnê de três meses na Espanha. Sem contar as apresentações que faremos em Cuba, mas ainda temos alguns compromissos a serem cumpridos até o final do ano. E a agenda está cheia para 2012, em que vamos celebrar, como é de costume a cada dois anos, o 23º Festival Internacional de Balé de Havana.

Onde: Teatro Nacional Claudio Santoro – SCTN Via N2, Brasília (DF); Teatro Castro Alves – Praça Dois de Julho, s/nº, Salvador (BA); e Teatro Anhembi Morumbi – Rua Dr. Almeida Lima, 1.198, São Paulo (SP)
Quando: 20 a 30/7
Quanto: até R$ 30
Info.: (61) 3325-6329, (71) 3117-4899 e (11) 2872-1457

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Alicia Alonso, coordenadora do Balé Nacional de Cuba, fala sobre espetáculo que chega ao Brasil

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