Em último livro, Tom Wolfe contestou Darwin e Chomsky

Em último livro, Tom Wolfe contestou Darwin e Chomsky
Tom Wolfe, em 2016; jornalista morreu nesta segunda (14) aos 88 anos (Foto Dan Callister / Divulgação)

 

Considerado um dos pais do jornalismo literário, Tom Wolfe era também amante de temas polêmicos. Morto nesta segunda-feira (14), o jornalista norte-americano publicou seu derradeiro livro no ano passado, O reino da fala (Rocco), no qual trata do surgimento da linguagem – e desafia a hegemonia do pensamento de Charles Darwin e Noam Chomsky sobre o assunto.

No livro, de forma humorística, Wolfe apresenta  a teoria da evolução das espécies  como uma “mera hipótese científica” e defende que a linguagem não teria relações com a evolução biológica do homem. Ele dedica, também, boa parte do ensaio a contrariar as teorias linguísticas de Chomsky – apoiadas nas ideias darwinistas -, e afirma que o estudioso é um “fracassado”.

Wolfe propõe ele mesmo uma teoria sobre o surgimento da linguagem, segundo a qual os seres humanos teriam inventado a fala como um artefato cultural, sem que isso tivesse ligação com a evolução biológica. “O discurso e a linguagem existiam independentemente da evolução”, defende o jornalista, para quem a fala foi o fator decisivo para a humanidade avançar além dos limites da seleção natural, responsável, ainda, por quase todas as conquistas e derrotas da espécie.

Na introdução de O reino da fala, Wolfe conta que sua curiosidade sobre o assunto teria começado quando, “surfando na internet”, encontrou um artigo intitulado O mistério da evolução da linguagem. No texto, sete evolucionistas (incluindo o próprio Chomsky) afirmavam ter desistido de compreender as origens da linguagem. “Jamais ouvira falar de um grupo de especialistas se reunindo para anunciar que eram fracassados abjetos”, escreveu, irônico, Wolfe. A partir daí, o jornalista se dedicou ao tema.

Não foi a primeira vez que Wolfe foi controverso. Em Radical chic & mau-Mauing the Flak Catchers (1970), por exemplo, ele faz uma crítica feroz à esquerda intelectual de Nova York ; em A palavra pintada (2009), desafia artistas e críticos da arte moderna; em Da Bauhaus ao nosso caos (1990), compra briga com os arquitetos contemporâneos. Entretanto, o jornalista nunca se deixou desanimar pelos desafetos e nem pela crítica. Em 1998, seu livro Emboscada no forte Bragg foi massacrado pela mídia – e ele respondeu, irreverente: “Ninguém entendeu que se tratava de um livro de ficção, não de jornalismo”.

Nascido na Virgínia (EUA), em 1931, Tom Wolfe foi um dos fundadores do new journalism, escola jornalística que tinha como característica a aproximação com a literatura – e como expoentes, nomes como Gay Talese, Truman Copote e Norman Mailer. Doutor em jornalismo pela Universidade Yale e autor de uma dúzia de livros, Wolfe começou sua carreira no The Washington Post, passando também por veículos como The New York Herald Tribune, New York Magazine, Esquire e Harper’s.

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