Tom Jobim em turnê
GUILHERME S. ZANELLA
O projeto Tom Jobim Plural 2012 – idealizado pelo pianista e maestro Marcelo Bratke e pela artista plástica Mariannita Luzzati – leva arranjos de Tom Jobim para dez cidades brasileiras. A música e as artes visuais dialogam na formação de um espetáculo que se propõe a “hipnotizar visualmente as pessoas”, afirma Bratke. Em paralelo às apresentações orquestradas pela Camerata Brasil, o filme-cenário projeta imagens que retratam a natureza brasileira inspiradas nos elementos da música de Tom Jobim.
Com apresentações já realizadas em diversos países e em prestigiadas salas de concerto como o Carnegie Hall, em Nova York, Queen Elizabeth Hall, em Londres, e Suntory Hall, em Tóquio, Marcelo Bratke afirma que o projeto Tom Jobim Plural 2012 vai render, além dos recitais, a gravação de um CD ao vivo.
O projeto inicia turnê em Itabira (Minas Gerais), no Teatro da FCCDA. Depois, segue para Rio de Janeiro, Belém, Paraupebas, Aracaju, São Luís, São Paulo, Vitória, Belo Horizonte e Corumbá, com apresentações até o dia 5 de dezembro.
Em entrevista à CULT, Marcelo Bratke fala sobre o surgimento do projeto e a dinâmica das apresentações:
CULT – Quando o projeto foi idealizado e como surgiu a ideia?
Marcelo Bratke – Na verdade, fundei a Camerata Brasil entre 2006 e 2007. A gente foi estabelecendo alguns projetos de música brasileira. O primeiro foi Villa-Lobos, o segundo foi Nazareth e eu sabia que o terceiro seria Tom Jobim. Tenho essa trilogia na cabeça há muito tempo, e queria fazer um projeto grande , que leva compositores para o Brasil inteiro e fora do Brasil também. Eu e a Mariannita Luzzati fizemos um projeto juntos, idealizado por ela, dez concertos em penitenciarias no estado de São Paulo, onde toquei Villa-Lobos e Tom Jobim. E, como os dois compositores eram muito ligados a natureza, ela teve a ideia de fazer um filme sobre a natureza brasileira como se fosse uma instalação cinematográfica, onde transformaria as imagens naturais em imagens artísticas. Trata da natureza brasileira, que influenciou, seja o Villa-Lobos, seja Tom Jobim. Então a gente fez desse filme, cenário. A ideia do Tom Jobim Plural, com outro filme-cenário, surgiu disso. O concerto multimídia surgiu da ideia do concerto nas prisões.
Como a dinâmica entre linguagens, musical e visual, dialoga com o público?
Como ela foi idealizada para ser apresentada em penitenciárias, a ideia foi levar a natureza através da musica de Villa-Lobos e de Tom Jobim para o coração das pessoas que estavam ali, privadas de liberdade, mas também levar visualmente a natureza, pois fazia tempo que não a viam. Foi uma coisa muito reveladora, muito emocional, o que aconteceu nesses dez concertos, nessas penitenciárias de São Paulo. Eu estava um pouco apreensivo com o projeto e foi uma coisa incrível. Hipnotiza as pessoas visualmente.
Quem não é tão ligado em música, fica hipnotizado pelas imagens, então a emoção entra em vários sentidos. É isso que a gente pretende fazer com Tom Jobim, em um filme novo que a Marieta fez em várias regiões do Brasil e com o plus da Camerata Brasil. A parte musical da Camerata é interessante. Estamos fazendo uma revisitação, trazendo elementos sonoros e visuais da natureza para a música, tratando da obra de Tom Jobim, que foi um compositor que tratava já de ecologia e natureza há muito tempo, antes de todo mundo no Brasil pensar sobre isso. As orquestrações que faço para a Camerata Brasil trazem de volta elementos da natureza como a chuva, os passarinhos, as florestas brasileiras… A gente produz o som de uma chuva com as mãos dos músicos, por exemplo. Traz elementos bem explícitos da natureza brasileira de volta à música de Tom Jobim.
A relação entre a arte visual (representada pelo filme-cenário) e a música interferiu no processo de adaptação dos arranjos?
Sim, totalmente. A Mariannita filmando isso, eu acompanhando, foi muito legal fazer a produção do filme. Esse filme foi inspirando a gente na parte musical também. Foi servindo como base que possibilitou que ideias surgissem. De repente, a gente se viu no meio de uma plantação de cana no interior do estado de São Paulo filmando estradas de terra. Uns carroceiros começaram a aparecer, e a gente colocou sons desse tipo nas orquestrações também. Uma coisa foi influenciando a outra.
Como os músicos da Camerata Brasil se inserem na iniciativa?
Esses músicos foram selecionados por mim em 2006. A gente teve vários formatos diferentes de execução. Eles vêm de áreas desprivilegiadas, aprenderam a tocar música “não-academicamente”, e esse foi um projeto profissionalizante que os colocou rapidamente, preenchendo suas lacunas musicais de maneira prática. As orquestrações se dão conforme vamos ensaiando. As ideias vão aparecendo de uma forma livre, nada engessada. De repente, o flautista vem com uma ideia, a gente agrega, surgem ideias durante os ensaios… Trazendo esse lado um pouco sinfônico, mas ligado a música popular e sobretudo a natureza.
Onde: Itabira, Rio de Janeiro, Belém, Paraupebas, Aracaju, São Luís, São Paulo, Vitória, Belo Horizonte e Corumbá
Quando: 17/7 a 5/12
Quanto: gratuito
Info.: http://marcelobratke.com/