Site reúne contos de autores clássicos e emergentes de todos os cantos do mundo
(Arte Andreia Freire)
Em vez de lutar contra a rapidez das redes, um grupo de amantes da literatura decidiu usar a plataforma online a favor dos leitores, adaptando-a para as necessidades contemporâneas. O resultado foi o The Short Story Project, um site que disponibiliza, de forma gratuita contos e haikus de diferentes partes do mundo.
Atualizados semanalmente, os textos são traduzidos para quatro idiomas (espanhol, inglês, hebreu e alemão) e disponibilizados também em áudio. Para participar, a pessoa precisa apenas se inscrever no site, embora os leitores interessados possam contribuir com doações mensais que variam entre vinte e trinta dólares.
O Short Stories Project foi criado em 2016 pelo arquiteto israelense Iftach Alony. Leitor de Borges e Cortázar, ele decidiu estudar letras na Argentina e dessa mistura cultural veio a ideia de criar a plataforma, que é a primeira do tipo voltada para literatura – e tem sido apelidada de “Spotify literário”, em alusão ao aplicativo que permite que o usuário, por meio de uma assinatura mensal, ouça músicas de forma ilimitada.
Da mesma forma, o Short Stories Project reúne uma grande diversidade de autores do mundo inteiro, que incluem clássicos como Virginia Woolf, Oscar Wilde, Herman Melville e Graham Greene, mas também outros talvez menos conhecidos ou celebrados internacionalmente, como a israelense Miri Shaham, a uruguaia Fernanda Trías e as argentinas Samanta Schweblin e Mariana Enríquez.
Do Brasil, há apenas três autores: Clarice Lispector (com “Macacos”), Machado de Assis (com “A causa secreta”) e Paulo Scott (com “Funny Valentine”). Mas, de acordo com a descrição do site, os autores são sempre apresentados aos leitores sem nenhuma hierarquia, seja ela geográfica, linguística ou cultural – e a intenção é aumentar o número de escritores mundo afora. Por enquanto, há cerca de 350 textos no site, prontos para serem lidos ou ouvidos. Embora traduzidos apenas para o inglês, o alemão, o hebreu e o espanhol, a maior parte dos textos originais estão disponíveis.
Os leitores podem sugerir contos e poemas aos organizadores, mas a maior parte do material que entra no site é selecionado por um time de escritores, editores, acadêmicos e jornalistas, que também trabalham nas traduções. Na equipe fixa do site, porém, há apenas cinco pessoas: Simon Lorsch, responsável pela sessão alemã dos textos, e María Fernanda Ampuero, Maya Feldman e Adam Blumenthal, que cuidam da parte em espanhol. O próprio Aloy é o curador dos textos em hebreu.
A ideia principal da plataforma, que não tem fins lucrativos, é abrir espaço para a leitura. Para isso, o site busca trazer aos usuários uma experiência personalizada: assim que a pessoa se inscreve, ela precisa definir os quatro temas de que mais gosta, entre assuntos como “absurdo”, “amor”, “clássicos”, “política” e “suspense”. Além disso, cada texto vem acompanhado de uma recomendação relacionada ao tema ou ao autor que estava sendo lido e de uma estimativa do tempo que leva para finalizar a leitura – tudo para encorajar e facilitar ao máximo a atividade.
Para o criador, a leitura deve ser levada a sério por ser mais do que um simples passatempo: “É uma atividade que pode servir para unir pessoas e culturas, uma caixa de ressonância entre vozes e ideias”, diz, no texto de apresentação do projeto.