Território de ancestralidade: derivas e quintais

Território de ancestralidade: derivas e quintais
O quintal, lugar de encontro e crescimento (Foto: RAFAEL FREIRE PEXELS)
  Só é possível dizer o caminho depois da caminhada. Depois da jornada, entretanto, a picada é outra. Há o itinerário da experiência e o percurso da memória – são sendas distintas e embaralhadas. Há perguntas que me faço depois da encruzilhada, não porque é mais seguro, mas por ser imperativo seguir pela estrada. Qual é o chão onde gravita meu pensamento? Se adentro, com tíbia alegria, as Veredas do Sol, é porque a tensão da Encruzilhada cravou em minha carne seus dentes e garras. Deixou-me mais atento e aberto. Desperto e amoroso como cabe a um viajante à deriva. À deriva da beleza, devo confessar, numa dança inusitada na qual não se conhece o passo, mas adivinha-se o ritmo. O compasso é um mistério fagocitado a cada passo, certeiro ou em falso, mas gingando (n)o Tempo Todo. Meu território é o quintal! Afinal, saltei de um para o outro, ao léu, sob a chuva, sobre o solo, sob o céu. O quintal de Mariana é o mais afetivo – onde plantei filosofia e agora colho saudade. O quintal da minha infância, com figueira e romã, mangueira e abacate, e após a balaustrada um terreno baldio onde catava alumínio, caco de vidro, cobre e arame. Um pouquinho mais distante uma chácara de caqui, um campinho de futebol e o esgoto da cidade. Uma descoberta desconcertante: depois de um quintal sempre há outro, ligando o mundo pela porta de trás. Pela porta dos fundos encontrei o terreiro onde aprendi o fundamento sem saber que o segredo e o sagrado (na)moravam ali; o samba no terreiro, a poeira subindo, a cerveja descendo, uma insólita alegria das

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