Restos de naufrágio em ‘Terra dos homens’, de Saint-Exupéry
Saint-Exupéry, 1944 (Foto John Phillips / Fundação John e Annamaria Phillips, Reprodução)
Na segunda semana de março, em passeata que saíra do vão do Masp e seguia para os lados da Câmara Municipal, num sebo instalado sobre o Viaduto Nove de Julho, encontrei um exemplar da 28ª edição brasileira de Terra dos homens, o mesmo que tenho hoje à mesa, ao lado da belíssima tradução de Rubem Braga. Voltei para casa. Palavras de ordem ainda ressoavam entrelaçadas às que exigem investigação e justiça pelos assassinatos de Marielle Franco, Anderson Gomes e tantos e tantas de cujo nome, um dia, aprenderemos a não nos esquecer. Na companhia de dois volumes, o lançado em 1939 e o que hoje faz parte da coleção Clássico para todos, passei a noite colhendo algo daquilo que o narrador – relatando suas aventuras quando jovem piloto do correio aéreo – mais de uma vez designou com estas palavras: “restos de naufrágio”.
Como voar não corresponde a um equivalente geral de sobrevoo, a meditação do piloto não se confunde com divagações apartadas, mas “envolve o homem em todos os velhos problemas”. Logo se percebe que o ponto de vista desse homo viator não é o de Sírius, vértice de triangulações abstratas que não distinguisse o que o espetáculo oferece ao passageiro e o que a paisagem requer da tripulação.
Aprender o ofício de piloto com as meias palavras dos veteranos, desvendar segredos e perigos de linhas aéreas mais ou menos estabelecidas ou por estabelecer, como Paris/Buenos Aires/Santiago, começava por disputar a pequena máquina a divindades elementares: a montanha cujo pico enevoado poderia significar um encont
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