Suicídio
I
Tínhamos na testa
vontade amarga
e marca mais funda
do alheio.
Víamos televisão
toda noite
para cegar
a metástase da vida.
Quando nos vimos
mais puros
nos matamos
jogando
ponderações e sonhos
pela janela do nono andar.
Nos matamos
e ainda assim
dezembro
sobre as acácias.
II
Dia seguinte
três da manhã
sem sono.
Corte no teto.
Deslizar de línguas
sobre nossos corpos.
Pingar do tempo.
Eram três
da manhã dia seguinte
e não havia sono:
a distensão secreta
de outras luzes.
Eu me matei no ontem
e ainda hoje
vivo.
III
Cone de luz.
Esfera.
Dobrando o braço
o sangue flui
veloz e exangue.
Abro três olhos
e me limito a ver
o vermelho
do mundo.
IV
A sagração da morte.
O luminoso gás
do apodrecer.
Forca. Revólver.
Cianureto. Faca.
Há estilhaços
de mortes
no pensamento.
V
Décimo cigarro do dia.
À noite, a dor no peito
diz que anda mal
o pulmão direito.
Fumo primeiro
para o esquerdo esqueleto.
Desatenções forjadas
encurtam
a dor
dos suicidas.
VI
Desagregar-se
Do peso
do corpo.
Do desconforto
da matéria.
No fundo
na curvatura de dentro:
memória
do azul do sal
que delenda teu dia.
SOLO
Largura
esta réstia de estria
no meu rosto.
O desejar mais fundo:
mergulho
no Silêncio.
Edson Costa Duarte, 48, é escritor em Campinas (SP). É pós-doutor em Literatura pela Unicamp e autor de Lírica impura I (UFSC, 2011)
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