Cavala
Edição do mês
O Telefone Opressivo (1977), De Michael Rothenstein/Hungarian National Gallery
A telefonista desliga.
A cada trinta minutos o telefone faz seis toques
no sétimo para
dentes batendo numa colher de prata
essa colher te olha
como o reflexo do seu olho
no fundo de um copo de água.
Ela tenta entrar em um cantinho
com pés de caldeirão
temos muitas primas
circuito torto
um papa salva a leitura de poesia.
Querido,
o poema é contínuo
estou atormentada como você
virei uma sala de cinema
funcionando
entre um poema e outro
escolho vestidos elegantes
e decotados
para sentir medo na rua
para o papa se envergonhar
mas achar linda
a mesma imagem no cinema.
Junto das cinzas do meu pai
E a merda
e os gases puros que elas soltam
Não sabemos o que tem aqui dentro
Será que se eu jogar as cinzas dos mortos na minha boca
acontece algo aqui dentro?
A realidade é essa folha branca
em que coloco um cabelo e todos
os parentes cavalos e eu
cavala uma família um potro no
rio de janeiro sentindo a
umidade do ar, a claridade
respiramos juntos as cinzas de todos que morrem agora.
Gabriela Guimarães, 25 anos, é secretária escolar
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