Sombras privadas em lugares públicos
Elena, de Petra Costa, 2012 (Divulgação)
Por alguns minutos, o espectador confronta a tela escura. Ouve-se apenas um diálogo, cambaleante e desagradável, ao telefone. De um lado da linha, um homem quer saber o que aconteceu aos ossos de seu irmão, enterrado em uma cidade distante. Do outro, uma funcionária do cemitério procura explicar, com frieza e alguma dificuldade de argumentação, quais são os procedimentos do lugar e por que ocorreu o que seu interlocutor demonstra não entender, muito menos aceitar. O espectador ouve a conversa como se invadisse a privacidade de alguém. Não é difícil sentir constrangimento.
A voz, saberemos logo em seguida, é do diretor Cristiano Burlan. Em Mataram meu irmão, ele empreende uma dolorosa viagem que tem início com a busca pelo paradeiro dos ossos de Rafael Burlan da Silva e só vai terminar quando o próprio cineasta confrontar os motivos que o levaram, dez anos atrás, a decidir fazer esse filme – que, se já configura uma experiência incômoda para o espectador, imagine para quem o realizou. Vencedor da mostra competitiva de médias e longas brasileiros na 18ª edição do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários, realizada em abril, o filme expõe em público o drama familiar resumido no título.
Há quem acredite que os eventos íntimos de Mataram meu irmão talvez devessem permanecer restritos a pessoas próximas aos envolvidos diretamente no episódio. Burlan não pensou assim. Muitos cineastas, espalhados por diversos países, também não. O cenário do cinema documental se transformou, sobretudo nos últimos 15 anos, em t
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