A retórica neutra dos desastres da ciência
O químico Fritz Haber, os matemáticos Alexander Grothendieck e Shinichi Mochizuki e os físicos Erwin Schrödinger, Werner Karl Heisenberg e Albert Einstein (Fotos: Reprodução)
Quando deixamos de entender o mundo (Todavia, 2022), de Benjamin Labatut, foi finalista do Booker Prize de 2021 e seu lançamento no Brasil causou a mesma admiração que produziu internacionalmente, levando o escritor chileno (nascido na Holanda) a ser convidado para a edição de 2022 da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
O livro reúne quatro narrativas sobre cientistas que ou foram responsáveis por experimentos com desdobramentos dramáticos, ou resolveram enigmas físico-matemáticos tão perturbadores que tiveram consequências nefastas na vida deles. Entre os primeiros, está Fritz Haber – químico judeu cujas pesquisas estão na origem do Zyklon B, o inseticida utilizado nas câmaras de gás nazistas e cuja história é narrada no capítulo “Azul da Prússia”. Entre os segundos casos, dois matemáticos – o japonês Shinichi Mochizuki e o alemão (naturalizado francês) Alexander Grothendieck – que, após terem formulado e supostamente resolvido conjecturas consideradas indemonstráveis por seus pares, caíram no mutismo e passaram a viver como eremitas.
No final do livro, Labatut escreve um epílogo, “O jardineiro noturno”, conectando suas próprias vivências a essa obsessão com enredos científico-biográficos. Nos agradecimentos, ele não só dá as fontes de suas narrativas como também expõe, de forma tão discreta quanto insidiosa, as liberdades ficcionais que tomou ao penetrar nos meandros da mente e dos acontecimentos cotidianos de suas personagens, todas elas reais.
O procedimento lembra as bibliotecas imagi
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