Raízes africanas

Raízes africanas

Marília Kodic

George Clinton, Tony Tornado e Seu Jorge. Public Enemy, Racionais MC’s, Method Man, Lee “Scratch” Perry, Marcelo Yuka e Mad Professor. Entre tantos outros. Soul, funk, rap e dub. Com um line-up de mais de 20 artistas (distribuídos em três noites), o primeiro grande evento do gênero no país olhou para todas as vertentes da música negra para selecionar representantes de peso de várias gerações.

Mais do que um simples festival, o Black na Cena dá um panorama da black music dos últimos 50 anos. “Esse evento é um reflexo da popularização do gênero, que veio de uma base construída nos últimos anos. Acho que a música independe de classe social, toca no coração das pessoas”, acredita o MC Criolo (foto) – uma das atrações da noite dedicada ao rap, assim como Thaíde, que se apresenta com a banda Funk Como Le Gusta e acrescenta: “Sou a favor da mistura de gêneros, faço isso na minha música e não tenho a intenção de parar”.

Entre as atrações internacionais, um dos destaques é Lee “Scratch” Perry, considerado por Criolo “o grande papa do dub”: “Acho que existe uma identificação do povo dele com o nosso; há no Brasil ?essa africanidade que foi espalhada no mundo. Será um ?grande momento”.

Leia a seguir a entrevista completa com Criolo.

CULT – Até pouco tempo atrás, não havia no Brasil um evento de grande escala dedicado à black music. Hoje, o estilo ganha terrenos mais populares, como a Arena Anhembi. Você considera positiva a popularização do gênero?

Essa popularização já vem acontecendo de uns 20 anos pra cá, antigamente nós tínhamos os bailinhos de colégio, as festas nas ruas, as pequenas equipes de som de bairro. Aí, algumas pessoas foram se organizando e fazendo festas maiores. E aí foi crescendo, foi gradativo, até chegar ao que temos hoje. Então esse evento é um reflexo da popularização do gênero, que veio de uma base feita de 20 anos pra cá para que todos esses rios chegassem nesse mar, criando a possibilidade de criarmos essa situação.

Houve algum fator decisivo para que o rap saísse da periferia e atingisse a mais pessoas, de outras classes sociais?

Acho que a música, independe de classe social, toca no coração das pessoas. Quem está vivo e quem tem sensibilidade e em determinado momento escuta aquela canção, se identifica, isso independe. A música chega. Seja por uma via ou por outra. Estamos sempre escutando coisas novas, coisas antigas. Algo antigo é novo a ser ouvido.

Que atração está ansioso para assistir no festival?

Todas. Lee Perry, por exemplo. Ele é o grande papa do dub, um mestre, um ícone, uma lenda viva. Não é todo dia que você em a oportunidade de escutar, de ver, mesmo que de longe. É uma felicidade, pois acho que existe uma identificação do povo dele com o nosso povo. Existem os porquês religiosos e os porquês do bairro onde ele cresceu, o modo como ele faz a música dele. Existe uma sintonia, há no Brasil essa africanidade que foi espalhada no mundo. Eu acredito que será um grande momento e com certeza um momento especial.

Recentemente, falamos com o Thaíde, que também está no festival, e mencionou que gosta bastante do seu som. O que acha disso?

Ele faz parte da história do rap e o hip hop do nosso país, então ele falar isso, pra mim, é uma grande honra.

Por que não existe amor em SP?

Não existe amor com o que a cidade faz com seus cidadãos. Mas todos os dias, os cidadãos da cidade de São Paulo estão levando amor, em todos os cantos. Para a sua comunidade, para os seus filhos, para os seus amigos, em suas pequenas ações políticas de dar um “bom dia” para uma pessoa, passando uma energia positiva para ela, até situações que mexam com cada peculiaridade de cada lugar da nossa cidade. Então essa canção é um grito pra valorizarmos o amor desses heróis anônimos que existem em cada canto da cidade, sobretudo nos extremos, que estão pregando a paz através de ações sociais, atividades políticas e artísticas. Hoje, mais do que nunca, nós vemos as cores nos muros, em todos os lugares que vamos nós vemos grafites belos, muitas frases fortes, remetendo à reflexão.

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Onde: Arena Anhembi – Av. Olavo Fontoura s/nº, São Paulo (SP)
Quando: de 22 a 24/7
Quanto: R$ 70 a R$ 250
Info.: (11) 2226-0400, www.blacknacena.com.br

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