Que projeto de poder está por trás do ódio dominante?
(Arte Andreia Freire)
Talvez já estejamos esquecendo de refletir sobre o ódio que grande parte da população brasileira devotou a Dilma Rousseff e que foi fundamental para sua deposição. Não que o povo importasse na decisão do Congresso Nacional, antes o coro popular foi a prova de que a população foi convencida e, desse modo, continuaria a votar nos deputados e senadores, nas próximas eleições, por mais que a grande maioria deles tenha dado demonstração cabal de deficiência cognitiva e ético-política. O Congresso que há de vir em 2018 será fruto dessa triste verdade, caso não haja uma virada de jogo.
Ainda estamos no clima psíquico do ódio que afeta profundamente a vida em sociedade e a política como um todo e que não cessará enquanto não tivermos coragem de uma alquimia política que transforme a matéria afetiva que está na base da nossa atual miséria espiritual. Essa matéria é o ódio, restos mortos da inveja, de sua descamação dermatológica. Transmutá-la em amor, na capacidade de fazer vínculos positivos, de respeito e reconhecimento, exigirá de nós análise, psicanálise e muito esforço.
Há uma ressignificação perversa envolvida na experiência de ódio da população: enquanto o voto foi desqualificado pelo golpe, e com ele o signo básico da democracia representativa deixou de ter qualquer valor, o ódio passou a ter uma validade capital, passou a orientar a moral, o julgamento, afetando o todo da nossa compreensão sobre a sociedade.
O termo golpe já sofre os efeitos do ódio. Ele mesmo é odiado há tempos por muitos daqueles
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